opinião

Bethânia, Clarice e Pessoa

Irlam Rocha Lima
postado em 09/11/2021 06:00

Maria Bethânia era adolescente em Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo baiano, quando ouviu junto com Caetano Veloso Sumertime, de George Gershwin, com Mahalia Jackson. Mais ou menos na mesma época, ela tomou conhecimento de O desastre de Sofia, crônica de Clarice Lispector, publicada na revista Senhor, por indicação do irmão. A partir dali, a jovem, que ainda nem sonhava tornar-se uma cantora, passou a ser uma apreciadora de blues e da escritora brasileira, nascida na Ucrânia.

Já em carreira artística, ao cumprir temporada no Teatro da Praia, no Rio de Janeiro, em 1971, com o memorável show Rosa dos Ventos, a futura estrela da MPB recitava trechos de poemas de Clarice Lispector e Fernando Pessoa, em meio a canções de Dorival Caymmi, Chico Buarque, Caetano Veloso, Edu Lobo, Jards Macalé e Carlos Gardel. Desde então, versos de Clarice e Pessoa passaram a fazer parte de, praticamente, todas as apresentações dela, inclusive as de Abraçar e agradecer e Claros breus — os espetáculos mais recentes.

Ao participar da Flip 2013, em Parati (RJ), ao lado de Cleonice Berardinelli, centenária imortal da Academia Brasileira de letras e maior especialista em Fernando Pessoa no Brasil, Bethânia fez leitura de parte da obra do poeta lusitano. O recital foi gravado no estúdio da Biscoito Fino, com direção de Márcio Debellian, e lançado em CD e DVD sob o título de O vento lá fora, pelo selo Quitanda, da gravadora.

O blues sempre foi ouvido com atenção pela Abelha Rainha, principalmente na longa quarentena determinada pela pandemia, quando só saiu de casa para fazer a live comemorativa de 50 anos de carreira e gravar o álbum Noturno — lançado em julho. Ela vê na música negra norte-americana uma relação com Clarice Lispector. Agora, às quintas-feiras, junta música e literatura em uma série de quatro podcasts, intitulada A arte é a única saída, sob a direção do poeta Eucanaã Ferraz, com transmissão da Rádio Batuta, mantida pelo Instituto Moreira Salles.

No programa de estreia, que dedicou a Caetano Veloso, a leitura de trechos de romances, crônicas e passagens de Água Viva — um resumo da obra livro de Clarice Lispector — é intercalada por blues cantados por Billie Holiday, Nina Simone e J.B Lenoir, além da versão de Summertime, na interpretação de Janis Joplin. Num outro episódio, Bethânia, que, em outubro, foi eleita para a Academia Baiana de Letras, volta a focalizar o legado de Fernando Pessoa e homenagear a fadista Amália Rodrigues, patrimônio da música portuguesa.

 

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