Aquele mantra do Flamengo "deixou chegar" virou do avesso: a concorrência chegou. Nem preciso citar Atlético-MG e Palmeiras. Bastam os emergentes Athletico-PR e Red Bull Bragantino. Estes dois clubes espalharam plaquinhas amarelas pelo caminho advertindo o soberbo Flamengo durante a tentativa de construir a soberania rubro-negra: "cuidado, operários trabalhando".
A diretoria, os técnicos, o elenco e parte da torcida do Flamengo contaminaram-se pelo discurso do outro patamar. Esqueceram-se de que, embora não ostente o orçamento do Flamengo, a concorrência está aprendendo a lidar com as limitações para competir desde o Estadual, Brasileiro e Copa do Brasil; à Sul-Americana e Libertadores.
O Flamengo não venceu o Bragantino neste ano. Perdeu por 3 x 2 no primeiro turno, no Rio, e amargou empate por 1 x 1, em Bragança (SP). Venceu o Athletico-PR com exibição de gala no Brasileirão, verdade, mas foi engolido por 5 x 2 no placar agregado da semifinal da Copa do Brasil por um clube copeiro, campeão da Sul-Americana (2018) e da Copa do Brasil (2019).
Há operários trabalhando, também, no Fortaleza e em times modestos como o Cuiabá. O estreante na elite segurou o Flamengo, no Maracanã; vendeu caro a derrota para o Atlético-MG, em Belo Horizonte; e superou o Palmeiras no primeiro turno, em São Paulo.
Não basta escalar Gabriel Barbosa, Bruno Henrique, Everton Ribeiro e Arrascaeta juntos. É preciso competência para fazê-los funcionar com excelência seja em quarteto, trio, dupla e até quando se tem apenas um deles.
A diretoria rubro-negra acertou ao trazer Jorge Jesus, mas não para de errar nas escolhas dos sucessores do português. Domènec Torrent, Rogério Ceni e Renato Gaúcho resgataram o "jesuísmo" em um jogo ou outro. Ceni até ganhou Brasileiro, Supercopa e Carioca. O Flamengo era mais organizado sob a batuta do ex-técnico. O time incomodava os críticos por jogar travado.
Renato soltou as feras, mas comete um pecado: a limitação tática. A impotência rubro-negra para implodir ferrolhos como o montado por Jorginho do Cuiabá ou Alberto Valentim na série contra o Athletico-PR expõe a carência de repertório da atual comissão técnica em meio à fartura de talentos.
A lição dada pelo Athletico-PR vai além do gramado sintético ou natural. Rodolfo Landim e seus comandados precisam admitir que os concorrentes estão trabalhando em busca de outros patamares que não sejam, necessariamente, o do Flamengo. O Atlético-MG pode terminar a temporada com a tríplice coroa — Estadual, Copa do Brasil e Brasileirão. Bragantino ou Athletico-PR conquistarão a Sul-Americana. O Furacão é finalista na Copa do Brasil. Se der Palmeiras na Libertadores, o elenco de R$ 200 milhões do Renato encerrará o ano com dois troféus: Carioca e Supercopa do Brasil! A concorrência chegou.