A barbárie exposta em números. O Unicef e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgaram um panorama do martírio de meninas e meninos neste país. O levantamento mostra que 35 mil crianças e adolescentes de 0 a 19 anos foram mortos de forma violenta entre 2016 e 2020, uma média de sete mil por ano! Entre 2017 e 2020, 180 mil sofreram violência sexual — 45 mil por ano, na média.
Dos assassinatos, 1.070 foram de crianças de até 9 anos. Na primeira infância, há outro dado apavorante: os homicídios de meninos e meninas de até 4 anos aumentaram 27% — saltaram de 112 para 142. Os números da violência sexual são igualmente aterradores. De 2017 a 2020, 62 mil crianças de até 10 anos foram vítimas de estupro.
Assim como outras estatísticas sobre o tema, a do Unicef/Fórum aponta que a morte de meninos e meninas é em decorrência da violência doméstica. Os estupros também são cometidos, em sua maioria, por familiares. Ou seja, vulneráveis, eles são vítimas dentro da própria casa. Quem deveria protegê-los, mantê-los a salvo, tornam-se seus carrascos.
Mesmo diante dessa calamidade, o Brasil continua a negligenciar crianças e adolescentes. Entra governo, sai governo, eles não recebem o cuidado de que precisam — com urgência — e que é determinado pela Constituição “com absoluta prioridade”.
Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum, atentou para o fato. Disse ela: “O poder público precisa encarar a questão com seriedade e evitar que mais vidas sejam perdidas a cada ano”. Veja como é a situação: mesmo diante de tanta violência, tem de instar o Estado a agir, a sair da inércia! A sociedade também deve despertar. Não pode se calar, como se a selvageria não estivesse acontecendo diariamente.
O Unicef e o Fórum elencam algumas recomendações para o enfrentamento dessa chaga, entre as quais capacitar os profissionais que trabalham com crianças e adolescentes, porque são fundamentais para prevenir e identificar os casos; garantir a permanência de meninos e meninas na escola, pois os profissionais de educação são atores centrais na prevenção e na resposta aos abusos; ampliar o conhecimento de crianças e adolescentes sobre seus direitos e os riscos da violência; responsabilizar os algozes; e não justificar nem banalizar a violência. Quem testemunhar, souber ou suspeitar de agressões tem o dever de denunciar. Silenciar é consentir.