O custo da decisão do governo federal de pagar um Auxílio Brasil com valor médio de R$ 400 e dar aumento de 20% para o benefício pago pelo Bolsa-Família já a partir de novembro e as manobras na Câmara dos Deputados para mudar a PEC dos Precatórios, de forma a liberar R$ 83 bilhões do Orçamento para gastos acima do teto legal, têm impacto direto na credibilidade do Brasil entre os investidores.
O motivo para essa manobra, que é o pagamento do auxílio a 17 milhões de famílias, incluindo pouco mais de 14 milhões que hoje são atendidos pelo Bolsa Família, é extremamente louvável, mas é preciso ter cuidado para que medidas que deterioram as contas fiscais do país não se tornem, elas mesmas, fator de redução do valor de compra do benefício, o que pode surtir efeito contrário, com as famílias percebendo mais os aumentos de preços dos alimentos e itens básicos e considerando a pouca ajuda e demandando mais.
Não se discute a necessidade urgente de dar proventos a milhões de brasileiros que passam fome para acabar, o mais rapidamente possível, com cenas de seres humanos revirando restos de caminhões com ossos e rejeitos de animais e latas de lixo. Cenas tão deprimentes quanto estas antes eram vistas em lixões, mas, hoje, espalham-se pelas ruas, principalmente nas capitais. Esses mais de 50 milhões de brasileiros que vivem em insegurança alimentar precisam ser socorridos pelo Estado, o que, de certa forma, vinha sendo feito até hoje pelo Bolsa Família. Essa ajuda, no entanto, ainda que seja com uso de mais recursos públicos, tem de ser feita de forma clara e permanente.
Encaminhar a solução de um problema que é estrutural no Brasil, onde há uma brutal desigualdade social, de forma a não preservar o equilíbrio das contas públicas é um erro não porque o mercado seja soberano e fique nervoso, mas porque, dessa maneira, há um custo alto para toda a sociedade. O rompimento do teto de gastos, medida de austeridade fiscal, representa para os investidores — os que colocam dinheiro em projetos no país ou compram os títulos e ajudam a rolar nossa dívida pública federal, na casa de R$ 5,5 trilhões — desconfiança em relação à capacidade do país de honrar seus compromissos e controlar seus gastos.
É por isso, por essa desconfiança, que o dólar teve alta de 3,16% na última semana e fechou cotado a R$ 5,627 na sexta-feira. A bolsa despencou 7%, aos 106.296 pontos. As empresas listadas na Bovespa perderam cerca de R$ 300 bilhões em valor de mercado. A equipe do Ministério da Economia perdeu quatro integrantes, elevando para 12 o número de técnicos que deixaram o barco do ministro Paulo Guedes desde o início do governo. Para repô-los, ele teve de recorrer a técnicos remanescentes da própria equipe, indicando que não buscou alguém de fora, ou, se o fez, recebeu não como resposta.
Para além do nervosismo do mercado financeiro, o rompimento do teto de gastos afasta investidores externos do Brasil, reduzindo a entrada de dólares no país e pressionando a cotação da divisa norte-americana. Dólar caro significa mais inflação, mais aumento dos combustíveis e da energia elétrica (há importação e Itaipu é binacional), alimentando a alta dos preços e destruindo o poder de compra da ajuda de R$ 400 na média.
A estimativa é de que, a cada 1% de alta da moeda norte-americana, o pãozinho nosso de cada dia receba impacto de 0,3 ponto percentual. É assim com todos os produtos e serviços que tenham insumos ou itens vendidos em dólar. Portanto, o Auxílio Brasil é extremamente necessário neste momento, mas a solução efetiva não envolve manobras orçamentárias e, sim, credibilidade para que o país tenha investimentos e geração de emprego. Trabalho, esse sim, o maior auxílio para quem precisa.
Sr. Redator
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Democracia
Em nosso mundo, supostamente civilizado, permanecem práticas discriminatórias. Para uns, práticas cruéis; para outros, práticas próprias de uma tradição que validou hábitos. Mais do que por decreto, é pelo acesso à educação que se pode transformar o modo de reconhecer o outro. Apesar da melhoria do acesso às escolas, ainda existem em todo o planeta 750 milhões de jovens e adultos que não sabem ler nem escrever. A exclusão elitista flagela as relações sociais, marginaliza os subalternizados, expulsa os indesejados, rejeita a integração coletiva. O excluído, como tal, fica ferido de morte na existência, e tudo se reduz à luta pela sobrevivência. Gente egoísta, em termos materiais e espirituais, produz “sistemas de morte” para aniquilar os considerados diferentes e vulneráveis. Uma vez que estamos diante de processos humanos interativos e carregados de tensão, foi a luta pelo fim da escravidão que gerou as maiores utopias de liberdade e, paradoxalmente, impulsionou discursos acalorados nesse sentido. Relações de desigualdade e modelos de assimetria fazem parte da história da humanidade, mas a escravidão significa um caso-limite. Ainda pesa sobre o Brasil viver como escravo depois da abolição. Há que se ouvir Machado de Assis (1839-1908) para se fazer valer a democracia em nossas terras: “A abolição é a aurora da liberdade; esperemos o sol; emancipado o preto, resta emancipar o branco” (Esaú e Jacó, 1904).
Marcos Fabrício Lopes da Silva, Asa Norte
Desafios
Os desafios nos esperam logo ali, em 2022.Temos um problema grave: falta um projeto de nação. Qual o nosso projeto? E quais as propostas para se chegar a ele? Se não decidir isso, ficamos assim: desenvolvendo iniciativas pontuais aqui e acolá, e só. A reforma política é urgente, até para dar condições a outras reformas. Outro ponto bastante importante é que o governo mantenha uma estabilidade econômica, evitando o retorno da inflação. Também é necessário investir mais em educação.
José Ribamar Pinheiro Filho, Asa Norte
Eleições
Os alto-falantes da terceira via informam, sob demorado foguetório, que agora são 11 os pré candidatos à Presidência da República. Um time completo de arautos patriotas decididos a tirar o Brasil do atoleiro. A democracia saúda a colossal festança eleitoral. A quantidade de laboriosos homens públicos não tira o sono da cansativa polarização entre Bolsonaro e Lula, cantada em prosa e verso pelo noticiário político. Pelo contrário, quanto mais fogosos políticos apareçam na rinha, um se achando mais qualificado do que o outro, levam Bolsonaro e Lula para mais perto do paraíso. O constante movimento das nuvens políticas que Magalhães Pinto gostava de citar indica que Sergio Moro virá enriquecer o balaio da terceira via. Até meados de 2022, Bolsonaro e Lula vão acompanhar, de camarote, arrancos rabos dos franciscanos adversários. Chutes na virilha soarão como carinhos. Enquanto o bom senso não for morar, de água e cuia, na cachola dos luminares da terceira via, consagrando apenas um nome para enfrentar Bolsonaro e Lula, tudo continuará como antes no quartel de Abrantes.
Vicente Limongi Netto, Lago Norte
Clima
“O que seria do azul, se todos gostassem do amarelo?~ Da discussão nasce a luz; as divergências são saudáveis e necessárias, desde que baseadas em fatos, estudos, ideias e sejam bem explicadas. A população mundial é hoje de 7,8 bilhões de pessoas e chegará, em algumas décadas, talvez pouco mais de um século, a 11 bilhões. Aí, ela se estabilizará e os recursos naturais serão suficientes para mantê-la. Não precisamos de alarmismos. Dizer que o planeta será danificado pelas ações humanas decorrentes desse aumento populacional é puro catastrofismo! Os “aquecimentistas” teimam em dizer que o aquecimento global antropogênico virá até o fim do século com consequências catastróficas, com base em um chavão, afirmando que, se nada for feito, a temperatura global subirá mais que 1,5 grau Celsius! Não estaremos aqui para testemunhar, mas os mais jovens poderão conferir a cada década se realmente a temperatura não para de subir! Sugiro a esses aquecimentistas que vejam o vídeo indicado, no qual o Climatologista Ricardo Felício assevera que: “O aquecimento global virou uma indústria!” https://www.youtube.com/watchv?=8AK9I.
José de Mattos Souza, Lago Sul
Energia
A recém-privatizada Enel, do Estado de Goiás, é mau exemplo do que podem se tornar essas empresas. A Neoenergia, do DF, segue os passos. Péssimos serviços prestados em Alto Paraíso de Goiás e região, constantes quedas de energia, que causam prejuízos às famílias e às empresas. E vai reclamar para ver, ou pedir indenização. O escritório de atendimento é um arremedo: um balcãozinho em lugar mal iluminado (que ironia!), de difícil acesso e escondido, encravado dentro de uma acanhada lojinha de roupas. E o horário, limitadíssimo. Por telefone, a mesma coisa. O atendimento? Descaso, desinteresse, quando não má vontade e rejeição. Tudo para afastar o consumidor e fazê-lo desistir.
Humberto Pellizzaro, Asa Norte
Desabafo
Pode até não mudar a situação, mas altera sua disposição
Era para ser um superministério da Economia, mas parece uma secretaria. Cada vez menor!
Marcos Gomes Figueira — Águas Claras
É decepcionante vermos o nosso país com 50% de vacinados, cerca de 100 milhões de pessoas, quando a Índia já vacinou mais de um bilhão de almas.
Paulo Molina Prates — Asa Norte
São tantos candidatos, tantas vias, que será difícil escolher o caminho menos pior em 2022. A atual, já sabemos, leva a gente para a cova.
Giovanna Gouveia — Águas Claras
O futuro presidente do Brasil saberá, exatamente, o que é uma “herança maldita”.
Joaquim Honório — Asa Sul