Aconcessão do Nobel de Literatura ao escritor tanzaniano Abdulrazak Gurnah, de 72 anos, é mais uma esperança no horizonte de tragédias e incertezas da crise migratória de populações africanas para a Europa. Mesmo em caráter simbólico, espera-se que o prêmio tenha alguma influência para provocar mudanças nesta triste realidade no enfrentamento das políticas xenofóbicas e supremacistas brancas. Afinal, Gurnah não vive na África, aposentou-se recentemente como professor de literatura inglesa e pós-colonial na renomada Universidade de Kent, no condado homônimo, perto de Londres, e vive em Brighton, no Sul da Inglaterra.
É o primeiro autor negro africano a vencer o mais importante prêmio da literatura mundial depois do nigeriano Wole Soyinka, agraciado em 1986. E é justamente reconhecido como especialista na obra de Soyinka e do queniano Ngugi wa Thiong’o, que era considerado um dos favoritos este ano. As premiações de autores africanos indicam reconhecimento da academia sueca à importância do debate sobre a questão migratória, o grande foco dos seus livros.
Após receber a honraria, Gurnah pediu à Europa “outro olhar” sobre os imigrantes africanos. “As questões que apresento não são novas. Mas se não são novas, são fortemente influenciadas pelo particular, pelo imperialismo, pelo deslocamento, pelas realidades do nosso tempo. E uma das realidades do nosso tempo é o deslocamento de tantos estrangeiros para a Europa”, afirmou ele em entrevista ao The Guardian.
O escritor vive na Inglaterra desde os 21 anos, para onde se mudou nos anos de 1960. Foi quando iniciou sua carreira de romancista, para expressar o que passou a sentir na própria pele. “Comecei a escrever casualmente, com uma certa angústia, sem um plano em mente, mas com pressa e vontade de dizer algo mais. Em grande medida, teve relação com a sensação esmagadora de estranheza e diferença que senti ali (Londres)”, disse ele também ao diário britânico. Seus três primeiros livros (Memory of departure, Pilgrims way e Dottie), inéditos no Brasil, tratam exatamente das experiências dos imigrantes no Reino Unido daquela época.
O cerne do universo literário de Gurnah trata de ficção construída com base em dura realidade de séculos: o colonialismo e a escravidão. E chama muito a atenção um trecho da entrevista dele quando afirma que os migrantes “não chegam com as mãos vazias”, são “pessoas com talento e energia”. Essa afirmativa põe por terra um preconceito enraizado há séculos, que inclusive se perpetua no Brasil até hoje: os africanos que para cá vieram serviam apenas para trabalhos braçais, eram pouco melhores do que animais.
Essa não era a realidade. No segundo volume da trilogia Escravidão – Da corrida do ouro em Minas Gerais até a chegada da corte de dom João ao Brasil, o escritor e jornalista Laurentino Gomes também derruba esse preconceito persistente ao mostrar com documentos que muitos africanos que para cá vieram, trazidos sobre chibata e correntes, tinham qualificação para muitas atividades, na mineração, na agricultura e outras áreas nas quais já atuavam em suas terras de origem, e os próprios portugueses sabiam disso e faziam essa distinção no momento de distribuí-los pelo Brasil.
Passados tantos séculos, entretanto, a ignorância e o racismo seguem alimentando essa percepção limitada. Daí a importância da declaração de Gurnah ao chamar a atenção de que os imigrantes africanos não são meros desqualificados, precisam, sim, de oportunidades e muito podem contribuir para a economia europeia.
Ademais, após o Nobel de Gurnah, é importante destacar a força da literatura no mundo real. Como disse o escritor português José Saramago (1922-2010), também vencedor do Nobel em 1998, ao receber o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte, em 1999: “Toda literatura é engajada. Não há literatura inocente. E ser engajado não significa sair à rua com uma bandeira ou manifesto, mas ter uma presença na vida, na sociedade”.
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Trânsito
Como todos sabem a W7 tem se tornado um local de muitos acidentes por falta de sinalização, iluminação, recou adequados e redutores de velocidade. Claro que também pela falta de respeito e imprudência do motorista. Mas isso é algo que não se resolve tão fácil... mas podemos amenizar essa situação colocando alguns obstáculos e melhorando a sinalização. Já pedimos algumas vezes um estudo para a via, porém sem sucesso. Nada como a força da comunicação para isso acontecer. Pedimos a sua gentileza, de separar uns minutinhos do seu tempo para nos ajudar, abrindo os seguintes os chamados, no 162 ou pelo www.ouv.df.gov.br. Chamados: 1) Pedido de sinalização e redutores de velocidade; 2) Pedido de recuo para a entrada/saída da SQNW 111/311.
Margareth Silva, Noroeste
Aula
Excelente a aula de política econômica dada pelo mestre (e xará de sobrenome) Antonio Machado, na coluna Brasil S.A do CB do último domingo (10/10, pág. 10). Lamentavelmente, nossa “República das Bananas” somente se consolidará desenvolvida, aos moldes americanos e europeus, quando os governantes brasileiros, legitimamente eleitos, embuídos de valores éticos e morais, enfim dissociarem, fidedignamente, a legítima “res-publica” — legitimada por meio do voto da plebe faminta de pão e circo — do seu precioso tesouro particular, meticulosamente escondido, em grandes cofres de paraísos fiscais, dos olhos grandes, porém jamais maiores do que os estômagos vazios da população explorada e miserável da nação tupiniquim verde e amarela.
Nelio Kobra Machado, Asa Norte
Nossa Senhora
O 12 de outubro é o dia consagrado a Nossa Senhora da Aparecida: a padroeira do Brasil. A designação da data e do nome estão ligados ao encontro de uma imagem achada em um rio, onde está construído o santuário. Mas, entendo, numa visão universal, que Nossa Senhora da Aparecida é a padroeira de todos os seres humanos do globo. E por quê? Porque ao visitar o sepulcro, e não encontrando Jesus, saiu triste correndo a comunicar aos apóstolos, quando Jesus apareceu vivo e disse: “Vai e avisa-os que logo estarei com eles”. Essa, portanto, é o que se pode atribuir a designação universal de Nossa Senhora da Aparecida.
José Lineu de Freitas, Asa Sul
Paulo Guedes
Tremenda injustiça o operoso ministro Paulo Guedes não ter ganhado o Nobel de Economia. Merecia. O ministro nadou para morrer na praia. Tudo corria nos conformes para as ambições de Guedes. Só não contava que os jurados do respeitado Nobel descobrissem o segredo que guardava a mil chaves: uma fortuna de milhões de dólares, que mantinha em offshore em paraíso fiscal. O sonho de Guedes era destinar o vultuoso prêmio do Nobel, aos milhões de brasileiros despejados e desempregados. Convencido de que seu bondoso gesto aliviaria a miséria e a fome que campeia no Brasil. O falante ministro também pensava (opa, foi mal) em doar parte da grana para adolescentes e mulheres que não podem comprar absorventes. Com todo o pedregulho no caminho de Guedes, o ministro continua o orgulho dos cidadãos. Amado pelos servidores públicos, sem aumento há seis anos e pelas milhares de pessoas que dependem do pagamento dos precatórios. Guedes tem trânsito com políticos. Embora a maioria deles não queira vê-lo nem pintado de ouro. A população, sobretudo a de baixa renda, tem esperança de que Guedes mandará diminuir os preços da gasolina, do gás de cozinha e da energia. Paulo Guedes é respeitado por todos os ministros. Especialmente pelo ministro Marcos Pontes, de cujo ministério Guedes mandou tirar 600 milhões de dólares do orçamento. O astronauta Pontes gostaria de mandar Guedes para o espaço sideral. Só com passagem de ida. O radiante Guedes ganhou novos amigos, os cientistas, pesquisadores, professores e alunos que dependem de bolsas de estudo. Paulo Guedes não tem queixas da vida. Dorme e acorda bolando mais maldades para o bolso do brasileiro.
Vicente Limongi Netto, Lago Norte
Desabafo
Pode até não mudar a situação, mas altera sua disposição
No final do governo dos militares, em 1985, a inflação estava em 64%. Presidente Bolsonaro, por favor, livre-nos dessa.
Joaquim Antunes de Carvalho — Asa Norte
Falar de 600 mil mortos aborrece o presidente. Por que será?
Eleonora Lima — Lago Norte
“Não sou coveiro... e daí... não vim me aborrecer...” O cavalão se supera a cada coice.
Ludovico Ribondi — Noroeste
Cem milhões de brasileiros totalmente imunizados. Vacinação em massa colocando o vírus nas cordas.
José Matias-Pereira — Lago Sul
Essa pressão de grupos religiosos para a nomeação de ministro do Supremo, passa a impressão de que o candidato precisa conhecer mais a Bíblia do que o direito.
Marcos Gomes Figueira — Águas Claras