Dizia, com muita propriedade, o filósofo de Mondubim, que com homens de saias não se briga, incluindo nessa lista padres, médicos e juízes. Mas quando o assunto é cometimento de crime por esses indivíduos, a razão é justa e vale arriscar.
É sabido que as instituições humanas estão, todas elas, fadadas ao erro. E por uma razão básica: os homens, seus criadores, são falíveis e passíveis de enganos. É da espécie, ao equilibrar-se no fio tênue que divide razão e emoção. Da mesma forma, a Igreja Católica, por sua condição humana, não está livre de erros e enganos. Por certo, essa é uma questão delicada e que, direta ou indiretamente, acaba envolvendo seu enorme rebanho, formado por um contingente de mais de 1,33 bilhão de pessoas, que se veem em situação embaraçosa de ter que admitir falhas e contrassensos ocorridos dentro do que seria a própria Casa de Deus e seu templo de adoração.
Nesta quarta-feira, durante audiência pública, o papa Francisco, visivelmente envergonhado e pesaroso, reconheceu o que parece ser o mais vexatório capítulo da história da igreja, desde a sua fundação, no século IV. Em relatório de milhares de páginas, elaborado pela Comissão Independente sobre Abusos Sexuais na Igreja Católica Francesa (Ciase), chegou à conclusão assustadora de que, entre 1950 e 2020, pelo menos 216 mil crianças foram abusadas sexualmente por padres pedófilos, que somam, aproximadamente, 3,2 mil clérigos só na França.
Trata-se aqui de uma ferida aberta e purulenta, exibida apenas pela igreja na França e que pode ser muito maior em realidade, se adicionados outros casos ocorridos pelo mundo afora. Ferida essa que precisa ser extirpada o quanto antes, para a salvação da imagem da igreja.
Antes de tudo, é preciso entender que nem todo pecado é crime, mas todo crime é necessariamente um pecado. Nesse caso, trata-se de um crime, encarado, pelo menos na maior parte do mundo ocidental e parte do Oriente, como um crime hediondo, passível das mais pesadas penas, inclusive como ocorre em alguns países, punida com prisão perpétua e, em outros, com pena capital. “Desejo expressar às vítimas a minha tristeza e minha dor pelos traumas sofridos, e também minha vergonha, nossa vergonha, pela incapacidade da Igreja, durante muito tempo, de colocá-las no centro de suas preocupações.
“Rezo e rezamos todos juntos. Tua é a glória, Senhor, e nossa, a vergonha. É o momento da vergonha”, afirmou o papa Francisco, para quem, do alto de seus 84 anos, essa é uma chaga que o faz sentir dor e sofrimento, mas que parece ir muito além de sua capacidade física e diretiva para abolir esse mal que parece ter raízes mais profundas e antigas.
Para aqueles que estão diretamente envolvidos nessa luta para punir os pedófilos de batina, essa é uma oportunidade para que o papa convoque um concílio mundial para empreender uma profunda reforma na Igreja, em suas leis, teologia e governança, a fim de que a instituição passe a considerar a infância como um momento sagrado para a humanidade, conforme ensina o próprio evangelho.
Entendem os movimentos que combatem a pedofilia na Igreja que essa é uma questão a ser levada para a justiça dos homens, aqui e agora, deixando a punição divina para o momento apropriado. Parece que Deus colocou o papa Francisco onde está para a hercúlea missão de separar o joio do trigo.
Não é de hoje que o assunto sempre volta ao noticiário, sendo que os culpados pela morosidade dos processos dentro da Igreja vão sendo deixados de lado, afastados para outras paróquias ou silenciados, e raramente são levados às cortes de Justiça para sofrerem as penalidades cabíveis. Teólogos respeitados em todo o mundo consideram que o assunto não é só a razão do afastamento de muitos fiéis da igreja, mas também uma questão muito mais grave do que a própria reforma protestante no século 16, que cindiu a instituição, levando consigo boa parte dos fiéis.
O papa e todos aqueles que professam o catolicismo estão diante de um problema que não pode mais ser relegado à censura de falta e de pecado, sendo que sua prática é crime, e um dos mais abjetos, a requerer punição exemplar dura, enviando os abusadores para o fogo do inferno, representado aqui pelos presídios e cadeias de todo o mundo.
A frase que foi pronunciada
“São questões complexas. “Eu não tenho nenhuma intenção de dar a você uma frase de efeito.”
Padre Lombardi, porta-voz do Vaticano
Boletim do TCU
Mais de R$1 milhão de economia aos cofres públicos com apenas um manejo na rotina do INSS. O caso se refere à concessão do Benefício de Prestação Continuada (BPC). O mais inteligente seria que a perícia médica acontecesse antes da avaliação social. Simples assim.
História de Brasília
Há funcionários do DCT morando na Cidade Livre, em Taguatinga e em invasões. Vieram transferidos compulsoriamente e, até hoje, não receberam apartamentos.
(Publicada em 10/2/1962).