Acho lindo um cabelo branco. E mais bonito ainda o movimento das mulheres de assumi-los. Nesta pandemia, com a impossibilidade de frequentar salões, houve uma libertação em massa. Comemoro com tantas amigas, colegas, artistas e desconhecidas o ato de ostentar os cabelos brancos e se orgulhar deles. Uma alforria das tinturas, por assim dizer. Com direito a uma autoestima renovada, diferente, que faz jus a momentos novos, revalorizados, à frente ao espelho.
Acredito que isso é parte de um movimento maior de luta contra o preconceito por idade, o chamado etarismo, que ataca especialmente as mulheres, vítimas preferenciais de um sistema patriarcal e, consequentemente, de um machismo estrutural que mata, agride, violenta a população feminina com uma frequência constrangedora.
A velhice é uma fase da vida. Uma linda etapa que nos convida a olhar para toda a nossa trajetória, a reverenciá-la, absorvendo as experiências boas e ruins, aprendendo com elas. É lindo ver que, nesta fase, ainda somos produtivas, capazes e, com sorte, libertas de tantas amarras. Um voo livre, enfim.
Reconhecer isso, mas também nos darmos conta da condição de privilégio que eu e muitas mulheres ainda temos de fazer escolhas nesta fase da vida, é necessário. Porque muitas e muitas, chefes de famílias e mães solo, continuam escravizadas pela falta de apoio e pelo preconceito, em condições miseráveis, de extrema vulnerabilidade e de muita solidão. Olha outro nome tão necessário que aprendemos há bem pouco tempo: sororidade - dar as mãos a mulheres que precisam, ter empatia, é tão essencial para o nosso engrandecimento.
A chance de fazer escolhas e de fazê-las de fato, sem o temor de ser julgada por uma sociedade patriarcal, é para poucas. Autonomia, independência e dignidade são atributos de uma maturidade que cabe a poucas. Tenho a sorte de ser uma delas.
Pela possibilidade de escolha, mantenho meus cabelos pintados e longos. Porque assim me reconheço, preservando minhas raízes e minha vontade íntima e própria — até a hora que resolver mudar tudo. Porque eu posso e quero mudar quando e quantas vezes quiser, independentemente de idade. A liberdade de escolha é a maior das liberdades. E o respeito diante dessa opção precisa ser coletivo para um avanço real.
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