OPINIÃO

De apagão e encontros

Taís Braga
postado em 05/10/2021 06:00

O dia foi mais silencioso ontem. Durante quase oito horas, as redes sociais mais utilizadas em todo o planeta pararam de funcionar, provocando uma súbita mudança de hábito nas pessoas. Muitos migraram para diferentes aplicativos de conversação e experimentaram outras plataformas. Mas foi diferente. Não se ouvia os ruídos característicos das notificações e, por outro lado, o chamado do telefone esteve mais frequente. É claro que foi o assunto mais comentado.

Para se ter uma ideia, o aplicativo WhatsApp tem mais de 2,8 bilhões de usuários ativos, segundo estatística do Facebook. Mais de 100 bilhões de mensagens são enviadas diariamente, e um usuário médio (apenas do sistema Android) dedica 38 minutos do seu dia à troca de mensagens. Isso sem falar no tempo que passa navegando pelo Instagram ou Facebook. Parece muito tempo. E é. Há muitas críticas sobre a quantidade de minutos e horas que se passa em frente às telas e telinhas, o fenômeno é analisado por estudiosos em diversas áreas. Gente que também usa, e muito, as facilidades das redes.

O tema rende opiniões e discussões infinitas. Há vários aspectos a se analisar sobre o uso das redes sociais. Desde a aproximação entre pessoas distantes — e vimos o benefício nos meses mais críticos da pandemia, no contato entre pacientes e pessoas queridas, entre os que estavam isolados em suas casas — aos novos modelos de negócio, de trabalho, estudo e diversão (as lives de shows, por exemplo), as redes mudaram a vida de cada um. E revolucionaram o jeito de viver de cada ser humano. Basta observar os novos bebês e crianças pequenas. Eles conversam com as telas ou deslizam os dedinhos pelas superfícies de smartphones com a desenvoltura de quem tem informação genética. Quanto aos maiores, nem é preciso falar — verdadeiros professores.

A grande dúvida é definir se tudo isso é bom ou ruim. Depende da situação. É preciso reconhecer que a ausência dos serviços, ontem, trouxe muitos prejuízos. As próprias empresas amargaram queda no valor das ações, grandes negócios precisaram ser adiados e, principalmente, os pequenos, aqueles que haviam se reinventado para enfrentar a pandemia, ficaram de braços, ou melhor, de dedos atados à espera de nova conexão. Não foi a primeira vez que ocorreu um apagão na comunicação virtual, nem será a última, visto que lidamos com sistemas informáticos sujeitos a panes, problemas técnicos ou erros.

Sem conexão pelas redes, porém, muitos contatos foram feitos por telefone, foram vozes que se reencontraram. Até mesmo pessoalmente. Sem acesso às plataformas, sobrou tempo para dar uma olhada naquele livro comprado e deixado sobre uma mesa, para conversar com o colega de trabalho, com o passageiro ao lado na cadeira do ônibus/metrô. E comentar sobre o apagão. Foi um dia diferente.

A verdade é que, enquanto facilita a rotina a que nos submetemos, a vivência on-line tem nos tirado tempo. Há um velho ditado que diz que tempo é dinheiro, todavia, não podemos comprar tempo. Portanto, tempo é o que vivemos no mundo real, é aquele que não volta. Tempo é vida. E, ontem, longe do virtual, pudemos vivê-la. Se eu pudesse dar um conselho, de vez em quando, viva um apagão.

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