opinião

Visto, lido e ouvido — Das fragilidades do mundo

Desde 1960

Por certo, muitas são as fragilidades do mundo — desde sempre. A começar pela exploração do homem pelo homem. Homo hominis lupus, dizia o filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679) autor do clássico Leviatã. Com esse conceito, Hobbes queria expressar a ideia de que o homem, ao longo de toda a sua história, desde o aparecimento dos primeiros aglomerados humanos, havia confirmado sua posição como o maior dos inimigos de sua própria espécie, superando as feras em animosidade e vileza.

O mal está no semelhante, convivendo e espreitando bem ao lado. Por meio dessa relação conflituosa e por causa dela, o homem construiu todo o tecido da sua história no planeta. Talvez, por isso mesmo, a história do homem tenha se transformado na história da tragédia humana. O que o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, mencionou ontem, em seu discurso na abertura da Assembleia-Geral da ONU, como sendo as fragilidades do mundo, desnudadas pela covid-19, na verdade, poderiam ser assinaladas como as fragilidades humanas, deixadas à mostra por conta da pandemia, principalmente as do caráter, capazes, inclusive, de nos conduzir para o beco sem saída da extinção da espécie.

Com os pés mais fincados na realidade, o secretário-geral da ONU disse, acertadamente, do ponto de vista metafórico, que o mundo hoje está virado de cabeça para baixo, tais foram as transformações maléficas geradas pela pandemia de covid-19. Segundo ele, experienciamos agora, mais do que em qualquer outro momento de nossa história, a chegada conjunta dos quatro cavaleiros do apocalipse, representados pelo aumento das tensões geoestratégicas globais; a crise climática; a crescente e profunda desconfiança global, tudo isso associado ao que chamou de “lado negro do mundo digital”, representado aqui, entre outras torpezas, pelo mundo paralelo e perigoso das fakes news.

A essa crise de saúde histórica e universal, veio se juntar também a maior calamidade econômica vista em séculos. Para Guterres, o mundo assiste à maior onda de desemprego desde a Grande Depressão, em 1929, e que resultaria na eclosão da Segunda Grande Guerra. Com esse receituário danoso para o futuro da humanidade, registram-se novas e perigosas ameaças aos direitos humanos em toda a parte e ao mesmo tempo. Existe, ainda, a alimentar toda essa insegurança mundial, um acentuado aumento das tensões sociais e um alastramento dos casos de corrupção.

Na visão de mundo, que apenas indivíduos na função de secretário-geral da ONU têm, pelo envolvimento direto com variados problemas que ocorrem simultaneamente em todo o planeta, a pandemia catalisou ainda mais os problemas que o mundo sofria. Aumentaram as injustiças, molestando os mais vulneráveis e apagando o progresso de décadas. Como consequência, a pobreza está aumentando, pela primeira vez em 30 anos, em todo o mundo, desacelerando os indicadores de desenvolvimento humano e, em decorrência desses males, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estão fora de controle.

Em meio a todo esse banzé, os esforços de não proliferação nuclear, segundo o secretário-geral, estão se esvaindo. “Nosso planeta está queimando”... “Enquanto o mundo todo está lutando, estressado à procura de lideranças reais e de ação”, alertou Guterres, ao parecer direcionar parte de seu discurso diretamente ao presidente brasileiro. Disse ele: “Populismo e nacionalismo têm falhado. Essas abordagens para conter o vírus têm com frequência tornado as coisas, evidentemente, piores. Tem havido, com muita frequência, também, uma desconexão entre liderança e poder.” É preciso ouvidos atentos para escutar as lamúrias do mundo, enquanto existe tempo para conter-lhes as lágrimas.


A frase que foi pronunciada

“O meu pai ensinou-me a trabalhar; não me ensinou a amar o trabalho”

Abraham Lincoln

 

História de Brasília

Temos acompanhado, desde há muito, o trabalho do cel. Dagoberto Rodrigues em Brasília, e somos entusiastas do diretor do DCT. Essa é a razão de abordarmos, hoje, assuntos ligados a essa repartição.
(Publicada em 9/2/1962)