Como tradição, desde 1955, o Brasil abrirá, nesta terça-feira, a Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). O presidente Jair Bolsonaro terá a importante missão de desfazer a péssima imagem do país perante o mundo, com um discurso conciliador, de defesa ao meio ambiente e aos direitos humanos. Não há outro caminho. Uma das maiores economias do planeta, referência na diplomacia, o Brasil não pode manter seu atual isolamento.
A expectativa é grande. Assim como divulgou uma carta à nação, na qual promete respeitar a independência dos Poderes da República, Bolsonaro deve ter a mesma grandeza ao discursar na ONU. Há, com razão, em todo o globo, uma grande preocupação com os movimentos de ataque à democracia, com as persistentes queimadas que destroem os principais biomas do país e com as invasões de terras indígenas. São retrocessos que precisam ser revertidos com urgência.
A boa notícia é que, desta vez, o Itamaraty, responsável pela política externa brasileira, está sob o comando de um diplomata sensato. Nas duas vezes em que participou da Assembleia-Geral, o presidente era assessorado por Ernesto Araújo, para quem era um ganho o Brasil ser visto como um pária mundial. Não há mais espaço para que o país figure no grupo das nações exóticas, do qual fazem parte, por exemplo, a Venezuela, a Coreia do Norte e o Irã.
O Brasil tem um papel importantíssimo a cumprir no contexto global. É um dos maiores produtores de alimentos do planeta. Nas próximas décadas, será vital para abastecer os cinco continentes, pois é o único que ainda tem áreas agricultáveis. Isso passa pela preservação da Amazônia é fundamental para o equilíbrio climático da Terra. Ao mesmo tempo, o paísprecisa de investimentos estrangeiros para crescer — por isso, há os encontros bilaterais entre os chefes de Estado. O capital, contudo, só se sente seguro em economias estáveis, sem sobressaltos políticos.
É para isso que o presidente da República deve olhar. A população brasileira está sofrendo demais. O estrago provocado pela pandemia do novo coronavírus foi enorme. Trouxe de volta a pobreza e a inflação, um flagelo para os trabalhadores. Com esse quadro dramático, o Brasil deve se apresentar ante o mundo como uma terra de oportunidades, não de conflitos e divisões, em que os maiores perdedores, como sempre, são os mais vulneráveis.
Apesar de todos os erros do governo na condução da pandemia, hoje, há dados importantes a serem apresentados aos líderes globais. Quase 70% dos brasileiros já tomaram a primeira dose da vacina contra a covid-19 e 38% estão com o ciclo completo de imunização. O número de casos e de mortes pela doença no país está caindo e indica que, aos poucos, a vida normal está se tornando rotina por aqui. O Brasil sempre foi uma referência em programas de imunização.
Portanto, cabe ao presidente Bolsonaro ressaltar as vantagens do Brasil e a importância do país no contexto global. Restringir o esperado pronunciamento na ONU às vontades de grupos radicais, de olho apenas na reeleição, é jogar contra. Um líder deve zelar, sempre, pelos interesses da maioria da população. Os brasileiros merecem respeito.