Visão do Correio

Batalha longe do fim

Vacinar ou não os adolescentes entre 12 e 18 anos contra a covid-19? Eis a questão. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, diverge da compreensão favorável à imunização dos jovens defendida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pelas comunidades científicas nacional e internacional e por governadores e prefeitos. Embora tenha afirmado que há vacinas em excesso no país, o ministro recuou na orientação de vacinação dos jovens, exceto daqueles com deficiência ou comorbidades.

Queiroga ponderou que os adolescentes saudáveis, infectados pelo novo coronavírus, não foram derrotados pela covid-19. O ministro revisou sua posição anterior — favorável à imunização dos adolescentes —, após a notificação da morte de uma jovem depois de ser vacinada — o que já foi descartado. Há quem suspeite de que o recuo foi influenciado pelo “sentimento” do presidente, que avaliou como desnecessária a vacinação dos jovens. O ministro nega.

Para a Anvisa, a morte da jovem de 16 anos, que recebeu a vacina da Pfizer, e as reações adversas devem ser investigadas, como todos os casos que forem necessários, mas, ainda assim, esses episódios não justificam a suspensão da aplicação de vacinas na parcela jovem da sociedade. Pelo contrário, o processo deve continuar. Governadores e prefeitos foram surpreendidos com a recomendação do ministério. A maioria deles ignorou a orientação e segue aplicando doses contra a covid-19 nos jovens.

O impacto da vacinação é inquestionável. Entre março e maio, a média móvel de mortes ficou acima de 2 mil casos. A partir de agosto, com a maior oferta de imunizantes, a média caiu para menos de mil óbitos e, hoje, é inferior a 500 vítimas a cada 24 horas. No boletim do Observatório da Covid da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), os especialistas reconhecem que a redução do número de vítimas e de internações não implica despreocupação. Pelo contrário, a crise sanitária está longe de ser vencida, devido à média de novos infectados em torno de 16 mil por dia.

Ainda segundo o Observatório, o alento vem com a redução da taxa de ocupação de leitos por covid-19 na maioria das unidades da Federação. Exceto a grave situação do Rio de Janeiro, com 82% de leitos ocupados, e Boa Vista (76%) e Curitiba (64%), que estão na zona de alerta intermediária, no restante do país, a situação está mais tranquila e sob controle. Esse alívio, entretanto, não significa um sinal verde para o “liberar geral”.

A Fiocruz reafirma a necessidade de uso de máscara, distanciamento físico e higienização de mãos. Adverte que a variante delta é “um agravante no cenário atual”, principalmente em localidades que flexibilizam as regras sanitárias de forma apressada e sem a observância dos critérios exigidos para o enfrentamento do novo coronavírus.

Os avanços conquistados na batalha contra o coronavírus não significam que o país e o mundo tenham vencido a guerra. Prova disso são as variantes delta, que circula no Brasil, e a mu, que chegou à América Latina — ambas mais agressivas e letais. A luta contra o vírus depende muito da ciência, mas exige consciência e respeito às orientações sanitárias para que a vitória seja de todos.