O avanço da vacinação contra a covid-19 por todo o país, mesmo com o Ministério da Saúde suspendendo a aplicação em jovens entre 14 e 17 anos sem comorbidades, permitirá ao Brasil retomar as atividades, ainda que dentro de um “novo normal”. São quase 140 milhões de brasileiros que já receberam pelo menos a primeira dose, o equivalente a 65,58% da população. Os que estão totalmente imunizados (com duas doses ou dose única) somam 76,7 milhões (cerca de 36%). A expectativa é de que a evolução dos números acelere, o que deve permitir flexibilizar ainda mais as restrições a atividades econômicas, favorecendo o setor de serviços, mais duramente afetado pela pandemia.
Esse segmento vem se beneficiando da reabertura progressiva das atividades, registrando crescimento de 1,1% em julho na comparação com junho, com ganho de 5,8% nos quatro meses até julho. Esse avanço se deve, basicamente, à reabertura de bares, restaurantes, salões de beleza, entre outros que prestam serviços às famílias; à retomada das viagens impulsionando o transporte de pessoas e a rede hoteleira do país. Com peso de mais de 60% na composição do PIB, o setor de serviços contribuiu para o aumento de 0,6% do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-BR), que funciona como uma prévia do PIB.
É uma reação, mas tímida e sem fôlego, para assegurar sustentabilidade ao crescimento da economia por mais tempo e para garantir a anunciada retomada econômica, após o arrefecimento da pandemia. Essa volta à normalidade vai ocorrer exatamente no momento em que cessa o pagamento do auxílio emergencial, que se tornou única fonte de recursos para famílias que perderam o emprego e engrossam o batalhão de mais de 14 milhões de desempregados em todo o país. Pelas projeções das instituições financeiras, a esperada retomada não virá, pelo menos não com a força necessária para fazer face às necessidades do Brasil, seja de investimentos em infraestrutura para evitar novas crises hídricas e risco de racionamento de energia elétrica e para reduzir gargalos logísticos, que nos deixam reféns do transporte pelas rodovias, seja de abertura de postos de trabalho e redução da desigualdade social.
No contexto atual, com várias casas do mercado financeiro reduzindo a projeção de crescimento de 2022 para menos de 1% e elevando a inflação para acima do centro da meta, há necessidade que se tenha senso de urgência na adoção de reformas e medidas que efetivamente favoreçam o ambiente econômico, reduzam a pressão sobre o real e tragam o dólar para um patamar abaixo de R$ 5 e combatam a inflação galopante que corrói o poder de compra e nos traz à memória tempos passados.
O vírus é inimigo a ser derrotado e, agora, ainda temos a inflação como grande vilã, que dilapida o poder de compra da população e pressiona os custos em todos os segmentos. É preciso lembrar que há outros adversários do crescimento econômico, como a crise hídrica e os impactos da estiagem sobre o agronegócio. A sensação é de que a pandemia vai passar, mas a febre, não. É preciso combatê-la após controlar a doença.