OPINIÃO

Vilões da independência

Além de vacinação em massa, o Brasil precisa de um amplo programa de terapia. Difícil compreender o que leva um cidadão a abrir mão de um feriado nacional, em um dia ensolarado, para idolatrar os discursos autoritários de um presidente fracassado. Com tantas praias e cachoeiras em nosso país, é, no mínimo, curioso assistir a tanta gente se espremendo em praça pública para reivindicações que beiram o absurdo. Processos são dignos de críticas e aperfeiçoamentos, mas pretender aniquilar a autoridade e a competência das instituições democráticas é flertar perigosamente com a barbárie.

Talvez, uma parte do público ainda não perceba, mas a venerada liderança é, no momento, a maior patrocinadora do antagonista que tanto ojeriza. Pois o fiasco retumbante do desgoverno que empreende alimenta o rival que pretensamente deseja ver longe do poder. Nesta sinuca de bico, quando se aproximam as eleições de 2022, o brasileiro haverá de agonizar, andando em círculos — caso os ensaios golpistas não se confirmem. Uma saída ainda é possível, mas se faz urgente a necessidade de restaurar o bom senso.

Enquanto o país atravessa graves crises (desemprego, pandemia, escassez de energia elétrica, secas severas e incêndios florestais de norte a sul — apenas para citar alguns assuntos mais preocupantes do que a mera posse do Palácio do Alvorada —, soa como uma comédia trágica e bizarra ver o chefe do Executivo federal esbravejar ameaças em palanque na Avenida Paulista, tendo ao lado personagens controversos como Ricardo Salles — o ex-ministro do Meio Ambiente que deixou a Esplanada sob fortes acusações e indícios de participação em esquema de contrabando de madeira na Amazônia. Se são esses os novos heróis da independência, então, a boiada foi pro brejo.

Está evidente o poderoso aparato publicitário que envenena os corações e mentes de uma parcela significativa da população, assim como são nítidos os gananciosos interesses da mesquinha e escusa elite que financia este complexo e eficiente esquema de subversão da ordem democrática — os herdeiros dos escravocratas ainda conspiram em pleno século 21. É preciso resistir com inteligência e justiça a essas forças caóticas, caso se almeje um destino de paz e prosperidade para a nação.

Não existe fórmula mágica para escapar às dramáticas consequências de mais um governo desastroso no Brasil. O salvador da pátria é uma ilusão. O mito mente. Se ainda tivermos oportunidade, devemos interromper esse ciclo de personas macabras na política e trabalharmos coletiva e diariamente em um projeto de base para o país, que tenha a educação, o meio ambiente, o trabalho, a cultura e a segurança como fundamentos prioritários. Que o discernimento nos ilumine.