As imagens vindas de Nova York impressionam. Nunca choveu tanto, pelo menos desde que se iniciaram as medições oficiais há 152 anos, em uma noite quanto agora. Um cenário de caos tomou conta da metrópole, com ruas inundadas, metrô alagado e estradas bloqueadas. Vidas foram perdidas. Querer culpar apenas a tempestade tropical Ida pela devastação provocada é enxergar o problema de uma forma bem simplória. O espectro a ser analisado tem de ser bem maior.
Não há dúvidas de que estamos no meio de um processo de mudança climática. O aquecimento global é real. Semanalmente, cientistas lançam pesquisas e alertas sobre o que está ocorrendo no planeta. Não acredita? É um direito seu, mas os dados estão aí. Analise-os, ou faça a modelagem como costuma dizer o mercado, e chegará à mesma conclusão de ambientalistas.
Aqui no Brasil também sofremos com as intempéries. Nas palavras do próprio ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, estamos no meio da maior crise hídrica dos últimos 91 anos — os dados oficiais mostram que nunca choveu tão pouco desde 1931. E só não é pior porque não se media antes. E, se em véspera de ano eleitoral, uma autoridade vai à tevê para pedir a redução do consumo de energia, é porque a situação está muito grave. Não duvide que o risco de apagão é real.
Tanto que o tom das análises mudou na última semana. Economistas veem risco de estagflação em 2022, aquela situação em que há a combinação de preços em alta sem o crescimento do PIB, caso as chuvas não venham com força no último trimestre do ano. Somando-se a isso ainda a pandemia do novo coronavírus, com cepas recém-identificadas ameaçando o recrudescimento de casos e mortes, estamos diante de um cenário preocupante.
Assim, não há espaço para bravatas. O ambiente de incerteza política e institucional precisa ser rapidamente dissipado em nome da possibilidade de dias melhores para a população. Só há prosperidade em tempos de paz. Ou é melhor o enfrentamento?