Continua sendo aguardado, na Esplanada dos Ministérios e no governo, um técnico com bagagem científica e currículo acadêmico suficientes para elaborar uma fórmula matemática capaz de evitar que os aumentos contínuos nos preços dos combustíveis e da energia elétrica não pesem tanto no cálculo de inflação quanto no bolso dos desesperados consumidores brasileiros.
Qualquer um que demonstrar matematicamente a possibilidade de o aumento desses insumos não incidir no cálculo da inflação poderia ser nomeado, instantaneamente, ministro plenipotenciário do Planejamento, com toda pompa e circunstância. Trata-se de conjectura ou de teorema dignos de uma “hipótese de Poicaré”, de difícil solução, mesmo na linha das ciências econômicas, em que o fator humano e suas variantes permitem infinitas outras.
No caso em questão, é sabido, como premissa, que qualquer variação para cima nos preços de combustíveis e energia tem reflexo direto no aumento dos preços finais para o consumidor, pois são bens econômicos necessários ao motor da economia. Num país em que o transporte é unimodal e realizado basicamente por rodovias, o aumento no combustível eleva os preços das mercadorias transportadas. Num país, também, onde a energia elétrica ainda é obtida quase que inteiramente pela força motriz dos rios nas turbinas das hidrelétricas, qualquer variação nas chuvas e no volume das águas fluviais tem efeito direto sobre a produção de energia.
Nos dois casos, o que o nosso esperado e exímio matemático enxerga, logo de saída, é a total dependência desses modelos econômicos na elevação dos preços e da inflação. Na realidade, o que se tem aqui é toda uma sociedade feita refém de um modelo construído para não dar prejuízos ao Estado, mesmo que isso ameace e estrangule o consumidor. O que se sabe ainda é que, no pós-pandemia, a maioria das economias mundiais necessitará de mais petróleo para a retomada de seus projetos de desenvolvimento.
Analistas de mercado são unânimes em apostar na elevação dos preços do barril de petróleo. Por outro lado, é certo também que o aquecimento global, que hoje é uma realidade planetária e praticamente irreversível, projeta uma intensificação do calor e do prolongamento dos períodos de seca.
O Brasil, que anda na contramão desses alertas científicos, permite todo o tipo de crime contra o nosso meio ambiente e ainda incentiva um tipo de agronegócio devastador e sem limites, hoje sofre e continuará sofrendo as consequências dessa incúria.
Desse modo, as variantes do modelo, tanto em relação ao petróleo quanto no caso das hidroelétricas, tornam complexas as resoluções desses teoremas matemáticos e indicam que são um problema de resolução quase impossível, mesmo no caso extremo de congelamento nos preços desses insumos básicos. Resta, portanto, a introdução, nessa fórmula, de alternativas exógenas, mas que, no médio prazo, concorreriam para desvincular, definitivamente, a diminuição do volume de água no leito dos rios e o aumento na demanda de petróleo na variação ascendente dos preços e na formação da inflação.
Essas variantes estão aí para todo mundo, para quem quiser ver, inclusive o governo, que finge não vê-las. Trata-se, por um lado, das energias eólica e solar, e, por outro, da construção de linhas ferroviárias, aliada à produção em massa de transportes movidos a eletricidade. Esse é uma saída, a outra é aguardar a chegada de um técnico em finanças públicas, uma espécie de Godot das matemáticas.