A economia brasileira voltou a ratear. O Produto Interno Bruto (PIB) caiu 0,1% no segundo trimestre do ano, contrariando a mediana das estimativas do mercado, que apontava para avanço de 0,2%. Entre 51 países que divulgaram o resultado da atividade entre abril e junho, o Brasil ficou na 40ª posição, atrás de emergentes como o México, que, no mesmo período, cresceu 1,5%, da Indonésia, com incremento de 3,3%, e da Turquia, com alta de 0,9%.
A retração do PIB vem a se somar a uma série de notícias ruins no âmbito econômico. A inflação caminha célere para os 10% ao ano, as contas de luz ficarão quase 7% mais caras neste mês, com elevado risco de racionamento, o preço da gasolina encosta nos R$ 7, mais de 14 milhões de pessoas continuam desempregadas e é elevada a possibilidade de o Banco Central dar um choque de juros no país para tentar conter o desastre. Economistas renomados dizem que o Brasil vive o perverso quadro de estagflação, ou seja, baixo crescimento com inflação alta.
Os números abertos do PIB indicam um quadro de forte deterioração. A agropecuária encolheu 2,8% no segundo trimestre, a indústria caiu 0,2% e os investimentos tombaram 3,6%. A produção agrícola sente os efeitos da crise hídrica, uma vez que a estiagem prolongada atrapalhou o plantio de várias culturas. As fábricas, por sua vez, sofrem com a alta e a escassez de insumos importantes. E os investidores botam o pé no freio por causa das incertezas econômicas e políticas.
Nesse cenário complicado, a principal mola propulsora da atividade, do lado da demanda, emperrou. O consumo das famílias ficou estagnado entre abril e junho, justamente no período em que muitas atividades foram retomadas depois do horror da segunda onda da pandemia do novo coronavírus. Os brasileiros estão superendividados e a renda do trabalho está tomando uma sova da inflação. Não há como pensar em recuperação desse consumo diante do aumento da conta de luz e dos alimentos e dos combustíveis mais caros.
O PIB decepcionante poderia ser apenas um ponto fora da curva, mas, segundo economistas, as perspectivas para os próximos meses são muito ruins. As chances de o país racionar energia subiram muito e as turbulências geradas por Brasília tendem a aumentar à medida que as eleições de 2022 forem se aproximando. Não por acaso, todas as projeções para o crescimento econômico deste ano e do próximo estão encolhendo. A recessão entrou no radar.
Boa parte dos obstáculos que se colocou no caminho do país poderia ter sido removida facilmente, a começar por um enfrentamento correto da covid-19 por parte do governo. Se houvesse uma vacinação mais célere e ampla, as atividades econômicas teriam voltado mais rapidamente e as incertezas em relação à pandemia teriam sido removidas do radar de empresários, investidores e consumidores. Mais: a calmaria política teria evitado um dólar a quase R$ 5,50, que inflou todos os índices de preços.
O estrago está feito, mas ainda é possível evitar o pior nos próximos meses. Basta que o governo faça o que tem de ser feito. Em vez de crises, construa um ambiente de pacificação, favorável aos negócios, e deixe de lado o negacionismo no caso da crise hídrica. Se continuar fingindo que nada está acontecendo, aí, sim, a fatura a ser paga será muito pesada. Não é justo jogar mais esse peso sobre uma população sofrida, que só quer o direito ao bem-estar social previsto na Constituição. Nada mais justo.