Há um território nas redes sociais em que a propagação de notícias falsas está a todo vapor. Falo do Telegram, aquele aplicativo de troca de mensagens em que é possível a interação por meio de chats privados, grupos ou canais de distribuição de conteúdo. É uma plataforma em franca expansão no país desde 2019, presente em praticamente metade dos smartphones dos brasileiros.
Rola de tudo lá. O foco são os nichos. Gente que curte música, cinema, teatro e atividades esportivas, por exemplo, compartilha e consome conteúdo de muita qualidade. Mas existe também o lado negativo, cada vez mais utilizado por extremistas tanto da esquerda quanto da direita, principalmente em causas políticas. São canais em que opiniões contrárias não têm vez. O debate inexiste. Se não concordar com a postagem e se posicionar publicamente, é banido sem piedade.
E aí que está o grande perigo. Há uma doutrinação em andamento. E virou o paraíso das fake news. Notícias são inventadas e distribuídas em vídeos curtos, memes e mensagens. Dali, migram para outras plataformas, como Twitter, Facebook, WhatsApp e Instagram. Um dos maiores canais por lá tem o seguinte lema: “Quem não segue os melhores canais do Telegram, hoje em dia, está totalmente desinformado. E, quem assiste à tevê, hoje em dia, está sendo totalmente enganado”. E aqui está o problema. A desinformação impera no aplicativo.
A narrativa é única, linear, sem espaço para o contraditório. Não há pensamento crítico. A maior mentira contada por lá nos últimos dias foi que “o ex-presidente Donald Trump reassumiria o comando dos EUA nesta semana, com a vice de Joe Biden, Kamala Harris, se escondendo no Canadá, por isso, o presidente Jair Bolsonaro levou uma grande comitiva para a abertura da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas”. Quer algo mais sem pé nem cabeça? Nada disso ocorreu e a fábrica de mentiras seguiu a todo vapor. Sem nenhuma espécie de erramos.
O impacto de tanta desinformação é difícil de ser medido. Não há como fiscalizar, nem como regulamentar —, inclusive, acredito que não é papel do Estado se intrometer em redes sociais. Mas é fato que o rolo compressor das fake news está em andamento e vai aumentar progressivamente até as eleições do ano que vem. Para o nosso azar.
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