O silêncio dói. O choro corta a alma como navalha. Empatia. Compaixão. Perplexidade ante tamanha barbaridade. Uma visita ao Memorial 11 de Setembro, em Nova York, no exato local onde ficavam as Torres Gêmeas do World Trade Center, é um convite a uma profusão de sentimentos. Ouvir as vozes de pessoas desesperadas, clamando socorro, na certeza de que a morte chegou. Escutar as despedidas, por meio de telefone, de seres humanos com seus entes queridos. Impotência, fragilidade, finitude da vida, presença do mal. Nas redomas de vidro, os objetos pessoais abandonados. Uma sandália rasgada pela metade, um relógio quebrado na hora exata do desabamento de uma das torres, a pasta de couro do executivo destruída e suja. Mais adiante, um caminhão dos bombeiros destroçado. E a bandeira dos Estados Unidos, ainda suja e amassada, a mesma que foi hasteada pelos bombeiros sobre as ruínas — uma cena que lembrou a ocorrida após a Batalha de Iwo Jima, no Japão, durante a Segunda Guerra Mundial.
Duas décadas se passaram. Há 10 anos, Osama bin Laden acabou executado pelos Seals, a força especial da Marinha dos Estados Unidos. A rede Al-Qaeda não foi obliterada e, apesar de ter perdido parte da capacidade de ataque, segue uma ameaça. Duas décadas depois do pior atentado terrorista da história, o mundo assiste a uma espécie de déjà vu. Os extremistas do Talibã estão no poder, no Afeganistão, e todos os esforços, todas as mortes para vingar a carnificina do 11/9, foram em vão. Nada garante que os talibãs não façam aliança com grupos terroristas ou mesmo que reabriguem a Al-Qaeda em solo afegão. A Rede Haqqani, das facções extremistas mais cruéis do Paquistão, foi encarregada da segurança em Cabul. A impressão é a de que o mal que ceifou quase 3 mil vidas naquele 11 de setembro de 2001 está à espreita, na oportunidade para novo ataque.
No próximo sábado, 11 de setembro, é dia de refletirmos sobre o imponderável, sobre o fato de que o radicalismo, seja ele religioso, político ou ideológico, turva a mente e cega a alma. Abre espaço para injustiças e atrocidades. Qualquer fanatismo depõe contra a racionalidade que nos torna seres civilizados. Qualquer discurso que saia do tom polariza, convida à violência e distorce a realidade. Muitos de nossos filhos não tinham nascido quando as Torres Gêmeas desmoronaram naquela manhã ensolarada da terça-feira que mergulhou o mundo em tempos de medo.
Sim, o silêncio dói. Mas é preciso que, no próximo sábado, nós e nossos filhos reverenciemos os mortos, ainda que meros desconhecidos. E que todo o mundo se una no combate ao terrorismo, que assassina, silencia vidas, traz a ausência eterna e o choro que corta a alma como navalha. Que todo o planeta grite “não” ao extremismo. E mantenha preservadas a empatia, a compaixão e a perplexidade.
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