O próximo pleito está sendo forjado como o mais importante desde a nossa redemocratização. Nesses tempos incertos que antecedem a marcha até as urnas, e onde parece difícil acreditar em alguma solução, não adianta esconder-se embaixo da mesa esperando um milagre. É preciso reagir – começando por escolher em quem votar na próxima vez. A apatia e a omissão, já aprendemos, cobram um alto preço. Assim como escolhas apressadas e irrefletidas, baseadas apenas em alguma crença ingênua ou correntes de WhatsApp. Depois do que temos passado nesse quadrante de nossa história, temos que reafirmar nosso compromisso com a democracia. Um compromisso com a compreensão da importância e das consequências do voto.
Neste momento, estão em jogo não só sagrados valores constitucionais, que vêm sendo torcidos e retorcidos até a exaustão, mas também valores fundacionais do país. Liberdade, justiça e dignidade humana são alguns deles, assim, claro, como a própria democracia. Enquanto resolvemos os dilemas do agora, é preciso ir além dos personagens de sempre – caçadores de marajás, salvadores da pátria, pai dos pobres ou mito. O país precisa urgentemente de alguém que troque a ilusão de ser o dono de um trono e coroa pela compreensão real de que o necessário é um bom projeto para que o país possa mudar. Alguém que esteja disposto a montar um time focado em trabalhar de verdade, abandonando o vício recorrente no mero marketing pessoal.
Muitos dos eleitores do ano que vem mal conseguem entender a balbúrdia que é feita no país pelo presidente que trocou a obrigação de governar pela prática continuada da terceirização de responsabilidades e o ataque às instituições, mas já sabe que não quer repetir a experiência. Outros não querem reencarnar uma suposta alegria do passado, que hoje se sabe foi superfaturada e contaminada pela corrupção.
A pergunta que nos fazemos: temos candidatos, mas temos projeto de país? Não temos, nem teremos, sem nos livrarmos do moto-perpétuo personalista em que nos encontramos. Mais do que pessoas, é preciso consolidar pautas. Um projeto atual e concreto de país, que não é oferecido por Bolsonaro ou por Lula.
A indignação com a corrupção ainda é presente e latente. Vimos, com a CPI da Covid, que ela não tem um único dono. A pandemia agravou a pobreza e reforçou nossa posição como um dos países mais desiguais do mundo. A economia, ao contrário de todas as expectativas e promessas deste governo, ressuscitou o fantasma do baixo crescimento com alta inflação e desemprego. Um governo que não enxerga o potencial da economia verde com a floresta em pé. Que renega os índios. Que enjaula a cultura. E descarta a educação, tão relevante para o nosso presente e futuro. Tudo foi esquecido – ou distorcido. Retrocedemos. Muito.
Se engana quem acha que se deve escolher uma pauta em detrimento da outra. É preciso acabar com a tirania do “ou” e exercitar o poder do “e”. É possível ter uma agenda econômica, social, ambiental e ética. Elas, aliás, se reforçam mutuamente.
Queremos um país que lute contra a impunidade, que olhe com atenção para quem mais precisa, que tenha na educação a principal porta para as mesmas oportunidades, que modernize e seja responsável com sua economia baseada nas suas riquezas naturais - sem destruí-las. Que fortaleça nossos valores democráticos, educando novas gerações de líderes. Precisamos de novos brasileiros e brasileiras dispostos a fazer a política séria, eficiente e transparente.
Para 2022, precisamos transformar a indignação – justa e legítima – em um projeto que nos leve à reconstrução do nosso país. Não apenas negar Bolsonaro ou Lula, mas apresentar uma alternativa. É sim possível construir um projeto que traga a razão, integridade e soluções concretas para as eleições. Que tire os eleitores da apatia e que transforme a raiva e decepção em confiança e esperança. Para isso, não precisamos de messias ou velhos salvadores da pátria, nem de alguém que nos traga a mudança que tanto esperamos. Nós precisamos ser essa mudança. Um novo caminho é possível.
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