opinião

Artigo: Coalizão já!!

Faz-se necessário que as coisas se pacifiquem. Os candidatos que lideram a pesquisa nos oferecem a certeza da continuação deste festival de ódio que assola o país

Precisamos de calmaria. Nos momentos de tempestade, os rios transbordam e as águas vão para as margens. À direita e à esquerda. É a hora dos extremos. Passada a enchente, o rio se acalma, e as águas voltam a andar pelo leito do rio. Pois bem, precisamos que este processo, que é natural, venha acontecer também na política brasileira.

Não vou neste artigo fazer críticas aos dois candidatos que hoje despontam nas pesquisas eleitorais. Nem ao primeiro e nem ao segundo colocado. Só vou afirmar que, para mim e para uma robusta parcela da nossa população, “existe coisa melhor”. Ou “tem que existir coisa melhor”. Muito menos vou dizer que ambos só têm defeitos. Não! Eles têm suas virtudes, mas elas são relativizadas diante de defeitos imensos. E o maior deles é a completa incapacidade de ambos de pacificar o Brasil.

Vivemos a maior crise de exasperação do ódio das últimas décadas. Não digo da história, porque não vivi as épocas da escravidão, das revoluções. Mas, certamente, não é possível encontrar nos meus 60 anos de vida um ambiente tão convulsionado como este que estamos vivendo agora. Amigos se afastando, e não mais podendo conviver. Famílias que não mais conseguem se reunir em um almoço dominical. Namoros e casamentos que se encerram. E tudo em função de as pessoas pensarem de forma diferente em relação à política nacional.

Faz-se necessário que as coisas se pacifiquem. Os candidatos que lideram a pesquisa nos oferecem a certeza da continuação deste festival de ódio que assola o país. Penso que é imperativo que aqueles que pensam desta forma se organizem no sentido de cumprir o dever de apresentar uma alternativa viável, lúcida e pacificadora para o eleitorado nesta hora decisiva para a vida nacional. Também não vou fazer apologia de candidaturas. Tenho minhas preferências, mas elas não vêm ao caso.

Como bem disse Bruno Araújo, presidente nacional do PSDB com quem conversei longamente há poucos dias, quem quer buscar apoio não pode se recusar a eventualmente apoiar. O importante, neste momento, é a consciência de que é necessária uma união destes inconformados para que o sucesso possa ser alcançado.

No Brasil, muitos estão insistindo em fazer 2022 acontecer antes de 2021. Em disputar o segundo turno antes do primeiro. Pois saibam que isto é impossível. Existe, sim, um rito a ser seguido que nos garante a possibilidade de termos tempo. Não precisamos definir nosso candidato agora. Porém, temos o dever de agir já. Por que a dificuldade em definirmos nosso candidato? Simples. Porque não temos um candidato natural. Alguém que desde já reúna potencial eleitoral e político para ser,de pronto, ungido à condição de “Nosso Candidato”. Se tivéssemos, tudo seria mais fácil, mas ele não existe ainda. Ou melhor, existe, mas não sabemos quem é.

Hoje, os votos estão saindo do ex-líder e indo diretamente para o antigo segundo colocado. O resultado é que a situação se inverteu. E por que este “voo direto”, sem escalas no meio do caminho? Ou sem observância ao “caminho do meio”? Porque ainda não posicionamos ninguém. Vemos hoje vários pré-candidatos de alguns partidos se apresentando. Todos têm seus méritos, mas ninguém conseguiu até agora se destacar. Então, já que não temos um candidato ou candidata que possa rapidamente ser ungido a tal situação, podemos ficar de braços cruzados? Penso que não. Temos que criar um fato político que faça com que as pessoas reflitam se não há uma opção melhor durante esta migração de A para B ou de B para A. Qual seria este fato? Penso que este fato é a definição do nosso grupo.

Saber quais são os partidos que realmente estão dispostos a seguir juntos nesta luta. Se não podemos apresentar o nosso candidato ou candidata, devemos dizer quem somos e, na sequência, a que viemos. Ou seja, devemos formalizar o mais rapidamente possível a coalizão de partidos que vai sustentar esta candidatura alternativa e, na sequência, apresentamos um programa mínimo de governo que possa, este sim, ser desde já aprovado por parcela significativa da nossa população. Este programa mínimo deve se iniciar pela defesa inarredável da democracia. Aqui, lá e acolá. E sempre. Trata-se de bom início que nos diferenciam dos adversários. Mãos à obra!

*Carlos Marun é advogado, ex-ministro da Secretaria de Governo da Presidência Da República