opinião

Artigo: Um golpe na ignorância

Em vez da inserção de alunos com deficiência nas escolas regulares, o Ministério da Educação tentou segregá-los

Na contramão do preconceito, da ignorância e da falta de empatia, o Senado avançou numa medida importantíssima a favor da inclusão social. A Casa aprovou projeto de lei que prioriza a matrícula de crianças e adolescentes com deficiência em instituições públicas de ensino. O texto recebeu 75 votos favoráveis e nenhum contrário. Agora, segue para apreciação da Câmara.

O ministro da Educação deve ter ficado contrariado. Para ele, crianças com deficiência na mesma sala com alunos sem necessidades especiais “atrapalhavam” o aprendizado dos outros. Um “odioso e ultrapassado preconceito”, como bem definiu o senador Romário. O parlamentar deu uma aula ao ministro da Educação, nesta semana, sobre humanidade e inclusão.

Disse ele: “Todos os estudiosos e os mais conceituados pedagogos, em nível mundial, são unânimes em apontar os benefícios da educação inclusiva, não apenas para crianças com deficiência, mas para todos os estudantes envolvidos”. “Ela desperta nas crianças o respeito e a compreensão das diferenças, o sentimento de empatia com o próximo e a responsabilidade social envolvida no processo educacional. É um ganha-ganha”, acrescentou Romário, engajado na causa e pai de uma adolescente com síndrome de Down.

Em vez da inserção desses alunos nas escolas regulares, o Ministério da Educação tentou segregá-los. No ano passado, baixou um decreto prevendo que crianças e adolescentes com deficiência deveriam ter turmas e escolas específicas para eles. Felizmente, essa lamentável iniciativa está suspensa, por determinação do STF.

Romário ainda criticou outra declaração preconceituosa do ministro, de que universidade não deveria ser para todos. “Em verdade, o cargo de ministro da Educação é que não deveria, pois se trata de uma pessoa absolutamente desqualificada, ignorante para a posição que ocupa. O país merece alguém verdadeiramente à altura dessa pasta”, rebateu o senador.

Esse mesmo ministro — um pastor evangélico — é defensor de castigos físicos como forma de “educar” crianças e adolescentes. Em vídeo de 2016, ele prega: “A correção é necessária pela cura. Não vai ser obtida por meios justos e métodos suaves. Deve haver rigor, severidade. E vou dar um passo a mais, talvez, algumas mães até fiquem com raiva de mim: deve sentir dor”. Declarações asquerosas de uma figura indigna dos cargos que ocupa, seja no governo, seja na igreja.