Para além do êxtase dos pódios, residem gestos marcantes e de significados profundos em cada evento das Olimpíadas, sinalizando carências e tendências sociais, que reforçam sobremaneira o espírito dos Jogos. Em Tóquio, onde o Brasil acaba de realizar a melhor campanha do país na história, temos algumas amostras que merecem um instante de reflexão.
A começar pela brilhante ginasta Rebeca Andrade, a jovem negra filha de mãe solo, que encantou o mundo com movimentos graciosos e soberanos. Ousada, forte e inteligente, ela reconstruiu o hit Baile de Favela, que originalmente traz letras impronunciáveis e degradantes, para erguer dos destroços da cultura pop brasileira uma obra de beleza universal. Um ouro e uma prata que lançam nova luz sobre as periferias e nos permite alimentar a esperança de que o Brasil ainda pode dar certo.
As manifestações políticas também chamaram a atenção em Tóquio. A atleta norte-americana Raven Saunders, que desafiou as normas do Comitê Olímpico Internacional para, no pódio, fazer um alerta contra a opressão e a bielorrussa Krystsina Tsimanouskaya, que enfrentou a ditadura autoritária do país natal e acabou refugiada na Polônia, mostraram que é preciso coragem e atitude diante das injustiças, caso desejemos reais transformações.
E o que dizer da amistosa competição em elevado nível dos atletas do skate? Sem rivalidades acaloradas, a turma de estreantes olímpicos ofereceu ao mundo provas de eficiência da necessária concorrência colaborativa, adversários que se abraçam e celebram juntos os avanços mútuos. Com rodopios estonteantes no ar e manobras que beiram a delinquência, essa juventude nos ensina uma nova forma de enxergar a vida. “Com união, amor e respeito, podemos fazer do Brasil um lugar melhor”, bem disse o medalhista de prata Pedro Barros.