SACHA CALMON
Depois que o presidente caiu de quatro nas provas de fraude na urna, reli artigo no Estado de Minas do engenheiro Viana Lara sobre as biografias do democrático Churchill, primeiro-ministro que conduziu a guerra contra os nazistas e fascistas, e de Goebbels, ministro de agitação e propaganda do regime nazista alemão. Pareceu-lhe ver neste último alguma virtude no que praticava: “Uma mentira repetida milhares de vezes torna-se verdade”. É o que o presidente faz!
Viana Lara declara fé na direita e horror ao comunismo, daí seu apoio ao atual governo por ser anticomunista. Um arrepio correu-me pela espinha ante as ambiguidades das afirmações, porquanto perigo comunista no Brasil é miragem, tanto que o PCdoB é um cisco partidário. E tem mais. Lula (PT) governou o Brasil, após oito anos de FHC, de 2002 a 2010. FHC era de centro-esquerda e Lula de esquerda, porém democrática. No ano de 2010, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil cresceu 7,8%, o que permitiu a eleição da chapa Dilma–Temer para governar a partir de 2011, sendo reeleita em 2014 e apeada do poder no meio do segundo mandato, sob acusações diversas, nunca, no entanto, a de impedir eleições.
Diferentemente de FHC e Lula (criador do Bolsa Família), não cheguei a apoiar Dilma, por achá-la inepta para governar o Brasil, que tem 38 partidos e donos de partidos (Bolsonaro já passou por oito siglas nanicas). Agora, vai se filiar ao PP (centrão), negando a si mesmo. Nenhum deles implantou ou quis implantar o comunismo no Brasil, nem contestaram urnas eleitorais. O atual presidente é que tem o descaramento de ameaçar as eleições, inventando manipulações nas urnas eletrônicas para voltar ao nojento sistema dos votos em cédulas, gerando mil e uma reclamações e fraudes na totalização dos votos do sofrido eleitorado do Brasil (pois quer na urna eletrônica quer no voto em uma lista de papel, imensa e complicada, a totalização é idêntica). Nem é crível que as urnas sejam “arapucas” previamente “preparadas”. É desculpa típica de Bolsonaro, espelho subdesenvolvido do idiota que os Estados Unidos logo despacharam, o conhecido malandro Trump.
As besteiras bolsonianas são evidentes. A uma, o eleitor clica o número e aparece o resultado para a sua confirmação na tela. O eleitor sai satisfeito. A duas, nas cédulas de papel, o eleitor além de não ver a confirmação do candidato, fica confuso com o papelório, imenso, complexo, sem ter a chance de confirmar ou recomeçar a votar. Só doido pode imaginar centenas de milhares de urnas em eleições proporcionais ou majoritárias sendo preparadas, sob o comando de tribunais regionais e juízes de direito com funções eleitorais! Sua birra é somente para melar as eleições que ele vai perder. Está preparando confusão. A ele se aplica a expressão de “pescador de águas turvas”.
Estou de acordo, há dois regimes detestáveis, o comunismo e a ditadura disfarçada de democracia, o regime que Bolsonaro almeja com todas as forças do seu pendor ditatorial direitista. Segundo Guilherme Peixoto, o presidente da República não cumpriu a promessa de que apresentaria provas de fraude nas urnas eletrônicas. A prosa semanal foi cercada de expectativas, após o anúncio de Bolsonaro, que assumiu ter apenas “indícios” de supostas irregularidades. Para sustentar sua cruzada pelo voto impresso, ele fez transmissão de duas horas e expôs uma série de vídeos, os quais foram desmentidos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Durante mais de 30 minutos, Bolsonaro se alongou sobre temas como o momento econômico da Argentina e o pleito por uma cadeira no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Houve, também, críticas à corte eleitoral e ataques ao seu presidente, o ministro Luís Roberto Barroso. O presidente convocou a imprensa para assistir à exposição sobre as possíveis “fraudes”, mas não permitiu perguntas dos jornalistas, por medo.
Ainda durante a transmissão, o TSE publicou, nas redes sociais, um grande compilado de checagens desmentindo as teorias propagandeadas por Bolsonaro. Problemas nas teclas das urnas e exclusividade do Brasil no uso do sistema eletrônico foram alguns dos pontos refutados, com provas, pelo tribunal. Em dado momento, o presidente reconheceu que não há como cravar a existência de irregularidades. “Não tem como comprovar que as eleições foram ou não fraudadas.
Um crime se revela com vários indícios”, disse ele. Um simulador foi utilizado com intuito de mostrar que os resultados obtidos por meio das urnas eletrônicas podem ser mudados. O vídeo de um suposto programador de dados chamado “Jeferson” foi exibido. Nas imagens, o rapaz diz que é possível fraudar o código-fonte da urna eletrônica, mas sequer mostrou dados. Ao lado de Bolsonaro, no Palácio da Alvorada, estava um especialista em dados que atendia por “Eduardo”. Ridículo! Coisa de maluco, só mesmo no Brasil.