Entramos na reta final das Olimpíadas de Tóquio. Nas próximas 48 horas, serão disputadas as últimas competições, com foco, principalmente, nas finais dos esportes coletivos. Na manhã de domingo, a partir das 8h, terá início a cerimônia de encerramento, com a dourada e prateada Rebeca Andrade carregando a bandeira nacional. Nada mais justo. Ela brilhou. Fez história ao se tornar a primeira brasileira a conquistar mais de uma medalha em uma edição olímpica.
As disputas na capital japonesa também tornaram o skate o novo xodó dos brasileiros. Outrora restrito a transmissões na tevê a cabo, o esporte conquistou crianças e adultos com a pouca idade dos atletas e as acrobacias fantásticas. A procura pelo termo “skate” aumentou 650% na semana passada no Google. A venda de artigos esportivos ligados à modalidade cresceu 80% nos últimos 10 dias em lojas especializadas. Em casa, minha filha já pediu o presente de aniversário, daqui a pouco mais de um mês: shape, capacete e kit de proteção. Efeito fadinha, sem dúvida.
Há, no entanto, pontos negativos. Sairemos, mais uma vez, de uma Olimpíada com a sensação de que com mais apoio o desempenho dos brasileiros seria muito melhor. Sem contar os ouros, pratas e bronzes em disputa nos próximos dois dias, fomos muito bem, para os nossos padrões, no quadro de medalhas, mas fica nas entrelinhas a certeza de que tudo poderia ser diferente se tivesse mais investimento. Seja estatal ou privado. Atletas tiveram o patrocínio cortado na pandemia, precisaram adaptar o treinamento à nova realidade financeira e viram surgir rivais muito mais fortes e bem preparados.
O desabafo de Alison, parceiro de Álvaro Filho no vôlei de praia, precisa ser visto com atenção especial. Campeão olímpico no Rio em 2016, o atleta acabou eliminado nas quartas de final de Tóquio e expôs a paralisia que tomou conta da modalidade no país. “O mundo está investindo e a gente está parado”, cravou. Enumerou, principalmente, como razões para o fracasso: a falta de mais torneios, a dificuldade de captar e formar talentos e a ausência de um planejamento estratégico nacional para mudar a realidade. Sim, estamos estagnados e, pela primeira vez, não tivemos nenhuma dupla tanto no masculino quanto no feminino entre os semifinalistas olímpicos.
Como bem sinalizou o skatista Pedro Barros, medalhista de prata, o esporte serve de exemplo para o povo brasileiro. “A gente pode cair várias vezes no chão, mas a missão é ver um amanhã melhor.” Paris é logo ali. Todos nós vibramos com as histórias de superação. Mas elas têm que ser a exceção, não a regra.