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Artigo: Conto de fadas da vida real

Os valores e lições encontrados no esporte são fundamentais na vida real, na educação, no trabalho e na interação cotidiana entre as pessoas

As fadas existem! Uma delas, a maranhense Rayssa Leal, acaba de se tornar celebridade no Brasil e no mundo ao ganhar a medalha de prata no skate, em Tóquio. Como nos melhores filmes e desenhos animados sobre essas criaturas míticas, ela voa de modo espetacular em suas performances. Porém, suas mais importantes magias são o esforço, foco, disciplina, capacidade de superação, consciência e conhecimento do que faz.

Tais virtudes encontram-se em todos os protagonistas do mundo encantado dos Jogos Olímpicos, como se observa em outros brasileiros medalhistas, cada um deles personagem real de histórias de aprendizado e superação: Ítalo Ferreira (ouro no surfe); Kelvin Hoefler (prata no skate); Daniel Cargnin (bronze no judô); Rebeca Andrade (prata na ginástica); Mayra Aguiar (bronze no judô); e Fernando Scheffer (bronze nos 200 metros de nado livre). Esperamos que nosso país obtenha mais conquistas nos dias que se seguirem à data em que escrevi este artigo.

Os valores e lições encontrados no esporte são fundamentais na vida real, na educação, no trabalho e na interação cotidiana entre as pessoas. Nossa Fadinha, que se notabilizou por ser a atleta mais jovem da história do Brasil a subir ao pódio em Olimpíadas, também os pratica em seu dia a dia, inclusive na seriedade com que encara os estudos, como atesta Adriana Bertoldo, coordenadora pedagógica da escola na qual estuda em Imperatriz, sua cidade no Maranhão: “Rayssa é ótima aluna. Ela é bem popular, mas é muito simples. Nós, do colégio, sabemos que ela é esse fenômeno, mas seu comportamento é muito humilde. Ela brinca com as outras crianças, têm as mesmas atividades e leva as mesmas broncas. Então, ela é uma aluna show, e não fica se vangloriando”.

Histórias como a dessa menina de 13 anos são importantes para mostrar à nossa juventude e a todo o nosso povo, principalmente neste momento em que a pandemia da covid-19 afeta a economia e o ânimo das pessoas, que somos capazes de vencer obstáculos e conquistar vitórias. Esta, aliás, é uma das boas lições do esporte, assim como saber vencer com nobreza, perder com dignidade, não se abater e seguir em frente, trabalhar em equipe e manter a autoestima, com humildade, e a vontade de continuar progredindo e aprendendo.

O exemplo de Rayssa e dos atletas olímpicos também suscita uma instigante reflexão: são relativamente poucos os que, como ela, desenvolvem carreiras nos esportes de alto rendimento e chegam às principais competições internacionais. Porém, todos, assim como ela, precisam estudar, esforçar-se para ser bons alunos e fazer da educação a grande vitória de suas vidas. Por isso, é decisivo para o desenvolvimento de nosso país que tenhamos políticas públicas mais eficazes na área do ensino, como já ocorre em várias cidades brasileiras, oferecendo às crianças e jovens a oportunidade e o direito à educação de excelência, que tem sido o grande diferencial das nações de renda alta.

O ensino é transformador, proporcionando às pessoas a possibilidade de progresso constante e ascensão socioeconômica e conferindo aos países mais independência científica e tecnológica, níveis elevados de inclusão, redução das desigualdades, distribuição de renda e crescimento econômico sustentado. Embora seja importante forjar atletas, pois o esporte também é celeiro de oportunidades e bons exemplos, é ainda mais fundamental formarmos gerações cada vez mais preparadas, como nossa Fadinha, para conduzir o Brasil ao pódio das nações desenvolvidas. Somente a educação nos propiciará uma história real com final feliz!

*Vera Murányi Kiss é presidente da Fundação Péter Murányi