Uma esperança, que parece inquebrantável, move as famílias dos três meninos de Belford Roxo (RJ), desaparecidos desde 27 de dezembro. Para elas, Lucas Matheus, 9 anos; Alexandre, 11; e Fernando Henrique, 12, estão vivos, à espera de serem resgatados.
A fé se mantém a despeito do longo tempo do sumiço, que joga contra as chances de eles serem encontrados; das absurdas falhas nas investigações e da negligência do poder público, imperturbável diante do drama de pretos e pobres.
Essas famílias, forjadas nas dificuldades, sabem o que é lutar desde sempre. E, em nome de suas crianças, não esmorecem. Mesmo contra todas as probabilidades, mesmo que os indícios apontem para o pior. Como aconteceu no mês passado, quando um homem denunciou o irmão por participação na ocultação dos corpos dos garotos. Segundo ele, os três teriam sido espancados e mortos a mando de um traficante por envolvimento no furto de uma gaiola de pássaros.
A polícia passou a fazer buscas no local indicado pela testemunha, mas as mães dos meninos e a avó de dois deles se recusaram a acompanhar os trabalhos. E por quê? Porque acreditam piamente que os três estão vivos! Uma convicção comovente.
As buscas resultaram na localização de uma ossada, o que poderia ser o fim perverso do caso, mas, nessa segunda-feira, a perícia mostrou que o material é de origem animal. Um alívio estratosférico para quem acompanha o drama, porém, que não deve ter sido nenhuma novidade para as aguerridas famílias.
Em meio às investigações, a polícia também procura pelo traficante. O criminoso — é imprescindível ressaltar — só está nas ruas porque desfrutou das gentilezas da nossa legislação penal. Condenado a seis anos de detenção, foi contemplado com a saída temporária do Dia das Mães, em 15 de maio de 2017, e não retornou à cadeia, claro. Há, ao menos, sete mandados de prisão contra ele! O mais recente, por ter torturado um homem, em janeiro, e tê-lo deixado à porta da delegacia de Belford Roxo com um cartaz em que o responsabilizava, injustamente, pelo sumiço dos garotos. É isso. Somos o país em que criminosos saem pela porta da frente do presídio, com todas as bênçãos da lei.
A procura pelos meninos prossegue, assim como se mantêm a determinação e a confiança das famílias de tê-los novamente em casa. Que tanta luta e tanta fé sejam recompensadas.