Em um país onde o cobertor das finanças públicas é sempre curto, em razão da má gestão dos recursos e pelo pendor perdulário da maioria dos governos, quando falta dinheiro de um lado, o único jeito é retirar de outra rubrica, mesmo que ela seja prioritária e urgente para o atendimento da população.
Assim, todos os dias o cidadão assiste ao noticiário informando uma sequência ininterrupta de transferências de bilhões de reais, que são alocados de setores como a pesquisa, educação, cultura, saúde e outras de interesse direto da população, para cobrir rombos ou para complementar projetos, como fundo eleitoral, emendas de bancadas, emendas individuais, emendas de relatoria, emendas de comissão, fundo partidário e uma infinidade de outros projetos de agrado dos políticos.
Dezenas de bilhões de reais retirados de onde realmente são precisos para serem deslocados para onde não fazem a menor falta, sobretudo, quando se constata a situação de penúria experimentada nesse momento pelo grosso da população, com o aumento do desemprego, da fome, da pobreza, submetidas ainda aos rigores de uma pandemia má gerida desde o início.
Não há justificativa possível capaz de fazer com que o brasileiro médio compreenda e aceite esses remanejamentos como naturais e próprios da gestão administrativa do Estado.
O que salta aos olhos, logo de saída, é a insensibilidade com o que realmente importa e reclama medidas imediatas. A situação chega num crescendo tão absurdo, que leva o cidadão esfolado a acreditar que — diante dos altíssimos custos cobrados para que tenhamos um país, pretensamente, democrático — melhor seria regressarmos a um modelo de Estado centralizado e enxuto. O fato é que, para mantermos o atual status quo de nosso modelo de república, avaliado como o mais caro de todo o planeta, temos que repensar vantagens e prejuízos, sob pena de inviabilizar uma coisa e outra.
O que causa espanto é que, diante de uma situação adversa dessa magnitude, ainda é possível incluir nesse baile tardio do império os valores que serão sendo cobrados pelo pseudoapoio do Centrão ao governo.
Trata-se de uma conta que, para o bem da moralidade pública fugidia, não é divulgada e, por certo, será selada como segredo de Estado pelos próximos 100 anos. A notícia ruim, agora, sob forma de um calote oficial, é a de que o governo vai parcelar por tempo indefinido o pagamento de precatório, medida que vai pegar, principalmente, aqueles que não têm meios de pressão e lobby.
Para as elites do Estado, os pagamentos foram acertados há anos. Para professores e outros servidores, muitos dos quais falecidos, há décadas, esses pagamentos não serão feitos antes da virada do século. E saber que o governo retira da população recursos vitais que, mais tarde, recusa a devolvê-los, mesmo em caso de vida e morte. É a brutalidade do sistema e o preço a ser pago para que tudo permaneça como está.
A frase que não foi pronunciada
“Quantos parlamentares teriam coragem de propor um referendo para a população brasileira escolher com uma pergunta clara: você é a favor do voto impresso dentro da urna eletrônica?”
Dona Dita, com um sorriso de canto
Memória
» Muito bem lembrada, por João Vicente Costa, a história de Brasília sobre o senhor Jerônimo e dona Victória Abbadia Bezerra e Silva (viveu até os 102 anos). Eles vieram para Brasília em 1956 e ajudaram, com muito trabalho, a construir a cidade. Eram um dos primeiros moradores de onde seria a capital do país. Donos legítimos de muitos hectares. Que fique o registro desse casal que abraçou a nova capital com entusiasmo.
Páginas viradas?
» Como a venda de livros caiu amargamente, vendedores estão apelando para a criatividade para chamar atenção das pessoas. Em uma estante de uma cor só o cartaz diz: “Não me lembro do título, mas a capa era vermelha”. Na outra, os livros com os títulos voltados para trás e a placa indica: “Mistérios”.
Bomba
» Publicada no jornal da Universidade de Berkeley, na Califórnia, a entrevista com Joel Moskowitz, pesquisador da Escola de Saúde Pública e diretor do Centro de Saúde Familiar e Comunitária da UC Berkeley. O professor aponta os perigos da radiação dos aparelhos de celular e o efeito que o uso prolongado pode causar às células humanas. Veja todos os detalhes no Blog do Ari Cunha.
História de Brasília
Ainda sobre o caso Ney Braga, recebo novo telegrama que faço questão de substituir ao primeiro: “Tomando conhecimento da retificação feita em sua coluna no Correio Braziliense, louvo sua atitude, própria dos verdadeiros profissionais de imprensa. Grato. Ney Braga, governador do Paraná”.
(Publicado em 6/2/1962)