Enquanto o país ainda batalha para controlar a pandemia, tendo menos de um terço da população plenamente imunizada com duas doses de vacina e sob risco de nova escalada de casos e mortes por causa da variante Delta do novo coronavírus, bem mais contagiosa, a esperada recuperação da economia tem pela frente outro grave obstáculo.
Não bastasse a atividade econômica continuar patinando e o desemprego estar nas alturas, com quase 15 milhões de brasileiros sem trabalho, a crise energética, em relação à qual o governo manteve-se paralisado, teimando em deixá-la de lado, apesar dos claros sinais que vêm de meses, está, agora, cada vez mais próxima, já batendo na porta. E com força.
Resultado da pior estiagem em 90 anos, que se acirrou em julho e agosto, os reservatórios das usinas hidrelétricas do Sudeste e Centro-Oeste, responsáveis por 70% da produção do país, estavam no fim da semana passada com menos de 23% da capacidade de armazenamento de água. Como continuamos sem perspectivas de chuvas mais abundantes no curto prazo, estima-se que este volume possa cair à metade até novembro, comprometendo a capacidade de abastecimento.
O risco de racionamento ou até de apagões, sempre refutado pelo governo, passa a ser real. O Operador Nacional do Sistema (ONS) emitiu alerta prevendo deficit de oferta de energia já em outubro e sugerindo providências emergenciais como o incremento da produção das termelétricas, cujo custo é mais alto, e a importação do insumo de países vizinhos, entre outras.
Um efeito imediato é o encarecimento da energia, já que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) elevará de novo o valor da bandeira tarifária vermelha, nível 2, em vigor, que sobretaxa o consumo e já havia sido reajustada em 52% em junho. Mesmo assim, o ministro da Economia, Paulo Guedes, preferiu minimizar o problema. “Qual o problema de a energia ficar um pouco mais cara porque choveu menos?”, indagou Guedes, na última quinta-feira.
No entanto, o ministro sabe muito bem que energia mais cara aumenta os custos em todas as cadeias produtivas — o insumo responde por até 40% das despesas em alguns setores industriais —, além de elevar as contas de luz residenciais. Pior ainda, impacta diretamente na inflação, que voltou a assombrar, puxada também pelas altas de preço da gasolina, gás de cozinha e alimentos, penalizando sobretudo os mais pobres. Não à toa, o índice oficial de julho ficou em 0,96%, acumulando 8,99% em 12 meses, e o IPCA-15, prévia de agosto, bateu em 0,89%.
O fato é que Guedes e o restante da equipe governamental custaram a se mexer em relação à crise energética. Só recentemente foram anunciadas medidas como compensação financeira para grandes consumidores industriais que aceitarem reduzir ou deslocar o consumo para horários de menor demanda e desconto na conta de luz para residências que diminuírem o uso energia de forma voluntária. As regras, no entanto, ainda não estão definidas e só devem entrar em vigor nos próximos dias.
O que se espera é que não seja tarde demais. Também já passou da hora de deflagrar grandes campanhas publicitárias junto à população para o máximo empenho na economia de eletricidade e de água. Neste contexto, cabe a cada um de nós, cidadãos, como já dito aqui, apagar luzes acesas à toa, desligar equipamentos sem uso, reduzir o tempo dos banhos e apertar bem as torneiras, enquanto esperamos pelas chuvas.
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Árvores em vez de fuzis
Este barulho constante, confuso e enfadonho acaba de sugerir qual garoto-propaganda de remédio que também consuma suas economias em tiroteios. Afinal, que outro objetivo há no gatilho senão disparar? Para a maioria retumbante, falta, mas alguns ainda esbanjam a fartura e se permitem ir ao shopping passear. Quem sabe se cada família tiver ao menos um fuzil, os almoços de domingo sejam mais saborosos — com bastante ketchup e carne malpassada.
Talvez, não, pois está caro. Melhor usar extrato de tomate e ovos.
Se bem que, havendo fuzil, dinheiro não é problema. Seria possível, neste momento histórico nacional, reproclamar a independência do Brasil, abolindo-se o Real e anunciando o mais bem-sucedido programa governamental de todos os tempos: o ‘Bolsa-Pistola’. Esqueça seu cartão de crédito e faça suas compras no supermercado, nas lojas de departamento e nos postos de combustíveis passando a arma no caixa. Lembre-se de digitar sua senha auditável de seis algarismos.
São tantos os regozijantes e lucrativos infortúnios dos campos de batalha, mas há ainda um derradeiro investimento para se alcançar a absoluta fortuna e bem-aventurança: entregue sua alma ao líder supremo e siga, cegamente, para onde ele ordenar. De arma em punho, mensagens de WhatsApp atualizadas e presidente no coração, a inteligência alcança patamares espeleológicos.
Distante do prenúncio do caos e sem qualquer esperança, quase extinto, mas fazendo o necessário para sobreviver, o jardineiro planta árvores — pois aprecia o sabor dos frutos silvestres e projeta um futuro de abundância e felicidade para uma improvável descendência. O silêncio de dias secos e noites quentes embala o trabalho de anos de paz, enquanto o amor lhe faz o prazer transbordar.
Ele planta Cerrado, porque gosta de sombra e do perfume da mãe Terra. Conhece a liberdade não por ouvir falar, mas de uma experiência cotidiana de conquista da vida. Desacelera a morte e ignora a violência de todos os governos. Prefere esta alerta calmaria às tensões palacianas em tempo real. Será atropelado, por fim, como toda a razão, mas terá cumprido um belo destino de honra — coisa que os bárbaros desconhecem.
Sr. Redator
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Homem cordial?
Tudo o que o escritor a Sérgio Buarque de Holanda pensou sobre ser o brasileiro um Homem Cordial se perdeu nas brumas da violência que se presencia diariamente. E também desaparece essa visão otimista ao nos depararmos com crimes violentos praticados por pessoas com educação universitária, como o que ocorreu com advogado que, intencionalmente, dirigiu seu carro de forma brutal e passou sobre uma cidadã indefesa. E a pergunta que não quer calar: por que não está preso na “papudinha”? O que dizer desse triste episódio para nossos filhos e netos? Direi que a covid-19 atingiu mortalmente o Homem Cordial e o fez voltar à idade de pedra ou ao tempo das cavernas — o homem se transformou, no caso, em um troglodita.
Aldo Paviani, Lago Sul
Armas
A conclamação de um presidente para que todo cidadão de seu país compre fuzil, se arme até os dentes, não apenas choca seus adversários políticos, mas qualquer pessoa, de qualquer nação, que anseia os princípios mínimos de civilização, e não a barbárie. Ressalve-se, que não estou me referindo ao espírito de carnificina do talibanismo em voga sangrando as manchetes da imprensa mundial, mas ao presidente de uma das maiores economias do mundo, com grau de civilidade, ainda, distante de uma ditadura almejada por uma figura ignóbil, sórdida e execrável. Não estranhei nada dessa declaração, tendo em vista o perfil parvo de nosso presidente. Estranho, esquisito, excêntrico, exótico, seria se ele proclamasse à população a comprar livros, jornais e revistas. Insólito seria ele radicalizar na abertura de Centros de Atividades Culturais (CAC), nos bairros de cada um dos 5.570 municípios do país. Bizarro seria se ele desencadeasse campanha nacional para o hábito da leitura. Por fim, sui generis seria ele berrar aos quatro cantos do país: “Comprem livros, pois o livro é uma arma que mata. Mata a ignorância!”.
Eduardo Pereira, Jardim Botânico
Vozes d’África
Buscando de todas as formas e meios pelos seres humanos, Deus tem sido, milênios, um enigma que muitos procuram decifrar. Filósofos, teólogos, cientistas, escritores de todas as tendências, e até pessoas mais simples costumam manisfestar a mesma inquietude que encontramos em Vozes d’África, do poeta brasileiro Castro Alves: “Deus, ó Deus! Onde estás que não respondes?/ Em que mundo, em qu’estrela tu t’escondes/ Embuçado nos céus...” Muitas vezes esta inquietude permanece indefinida, levando as pessoas de um lado para o outro, na busca de algo que não sabem explicar o que é. O certo é que esse algo tem também a ver com o problema até aqui insolúvel, da existência de Deus: Quem Ele é? Onde Ele está...?
José Ribamar Pinheiro Filho, Asa Norte
Viaduto
Na coluna Eixo Capital (26/8), o viaduto da Epig a ser construído, consta não fazer sentido “alargar uma via por vários quilômetros para desembocar em funil viário”. Gostaria de alertar que, para cada 20, 30 carros que transitam pelo local, somente um vira para o Sudoeste. Todos os demais rumam para Guará/Taguatinga. À vista desse fato, não há necessidade, nem haverá, uma vez que o bairro está completo, de alargar a avenida das Jaqueiras. Assim, não teremos um funil viário com a construção do viaduto e sim o desafogo do trânsito tão necessário no local.
Vera Sarmet, Sudoeste
Desabafo
Pode até não mudar a situação, mas altera sua disposição
Para quem diz agir dentro das quatro linhas da Constituição, soa como golpe a eliminação sumária de um pilar da democracia: o Judiciário?
Adriano Freitas — Sudoeste
Bolsonaro recomenda trocar feijão por fuzil. Isso é parte da receita para do caldeirão de sangue humano que pretende oferecer aos brasileiros?
Gilberto Borba — Sudoeste
Os governadores parece que não aprendem. Restringem e flexibilizam as medidas sanitárias. Eis a razão da redução e aumento do número de infectados e mortos pela covid-19.
Ana Luiza Lima — Octogonal
Um ano depois de lançada, a nota de R$ 200 está encalhada, os empregos, também. No Brasil de Bolsonaro, só deslancham o desemprego, a inflação, a fome e a miséria.
Eduardo Dias — Jardim Botânico
O governador Ibaneis condenou vandalismo na Praça dos Orixás. Mas isso não basta. É preciso investigar e a Justiça punir os intolerantes religiosos fanáticos soltos pela cidade.
Arlete Morais — Asa Sul
A CPI da Covid tem tantas provas de irregularidades e descasos do governo Bolsonaro no combate à covid, que só resta ao presidente criar nuvens de fumaça para turvar a visão da sociedade sobre a sua incompetência.
Evaristo Carvalho — Lago Norte