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Artigo: Quando a seleção era brasileira

Marcos Paulo Lima
postado em 28/08/2021 06:00

O boicote liderado pela Premier League à liberação de jogadores convocados por seleções de países da lista vermelha na pandemia pode forçar Adenor Leonardo Bachi, o Tite, a quebrar um tabu de 40 anos. A última vez que a Seleção Brasileira entrou em campo num jogo oficial das Eliminatórias para a Copa do Mundo escalada somente com jogadores empregados no país foi em 29 de março de 1981, no Serra Dourada, em Goiânia.

O mundo da bola era outro. Classificado para a Copa de 1982, o Brasil cumpriu tabela contra a Venezuela. Para variar, a CBF estava em crise a pouco mais de um ano do início do Mundial. A treta da época dizia respeito à renovação (ou não) do contato do técnico Telê Santana. O presidente da entidade, Giulite Coutinho, desembarcaria em um jatinho do empresário José Ermírio de Moraes Filho para resolver em uma conversa com o diretor de futebol Medrado Dias. A entidade estava em pé de guerra com clubes que ofereciam salários altíssimos a jogadores e treinadores. Não conseguia concorrer. Um dos alvos era Elias Kalil, mandatário do Atlético-MG.

Em meio ao cabo de guerra, o mineiro de Itabirito continuou comendo pelas beiradas. Telê mandou a campo o seguinte time contra a Venezuela: Waldir Peres (São Paulo); Getúlio (São Paulo), Oscar (São Paulo), Luizinho (Atlético-MG) e Júnior (Flamengo); Batista (Atlético-MG), Sócrates (Corinthians) e Zico (Flamengo); Tita (Flamengo), Reinaldo (Atlético-MG) e Éder (Atlético-MG). Goleou por 5 x 0, renovou contrato e liderou o Brasil na Copa da Espanha.

Aquela escalação foi um marco. De lá para cá, a Seleção disputou 94 jogos pelas Eliminatórias. Nenhum com uma formação 100% nacional. Há sempre, no mínimo, um “estrangeiro” empregado na Europa ou em outro canto do planeta. As leis do mercado da bola mudaram e os jogadores do país arrumam cada vez mais as malas rumo ao exterior.

Escrevi aqui, em 14 de agosto, o texto “O molho inglês de Tite” sobre a dependência da Seleção dos jogadores e ideias de treinadores da Premier League, mas não acho que ele terá de quebrar o tabu de 40 anos do Telê Santana nas partidas contra Chile, Argentina e Peru, em setembro, pelas Eliminatórias. Deve rolar a mistura de sempre entre nacionais e importados.

A Itália é a última campeã da Copa com elenco 100% nacional. Os 23 escolhidos por Marcello Lippi atuavam no país na campanha do tetra na Alemanha, em 2006. Exceção à regra neste século. Brasil (2002), Espanha (2010), Alemanha (2014) e França (2018) aplicaram a fórmula “tamo junto e misturado”. Talvez você seja o último romântico à espera de uma Seleção 100% nacional nas Eliminatórias para a Copa do Qatar. Aos saudosos de plantão, deixo link para você digitar e lembrar-se de quando a seleção era brasileira: https://bit.ly/3DmDVDN.

 

 

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