Opinião

Quando a corrupção mata

Qual seria a saída para tamanha crise que coloca em risco a saúde e a vida de milhares de pessoas? Não é apenas reagir aos fatos sempre de caráter urgente, no apagar das luzes, mas sim mostrar à população que esse Governo não tem compromisso com o SUS, não sabe sequer seu valor, logo, não governa, desmantela a Secretaria de Saúde, e, junto com ela, o fim agonizante do SUS

FÁTIMA SOUSA
postado em 23/08/2021 06:00
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A. Press)
(crédito: Ed Alves/CB/D.A. Press)

A ação de busca e apreensão realizada pela Polícia Federal ao Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF) ocorrida nesta semana, é o reflexo de mais um ato insano do Governo em privatizar o Sistema Único de Saúde (SUS) no DF em plena luz do dia e com requintes de perversidade para com a população que o elegeu. E mais grave, sob os olhos vendados da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF).

A operação, que determinou a evacuação do terceiro andar do edifício, onde está localizada a presidência do Instituto, tinha como objetivo obter documentos e arquivos que seriam provas de desvio de recursos e contratação superfaturada de leitos de UTI para o atendimento da covid-19. As contratadas são as empresas Domed e Oati, que deveriam ofertar além de leitos, insumos e equipamentos necessários para os cuidados intensivos dos pacientes com covid. As empresas também eram responsáveis pela contratação de mão de obra qualificada.

Fatos dessa natureza já não nos surpreendem, afinal, as buscas e apreensões tornaram-se rotineiras neste governo, que já teve muitos dos seus dirigentes com prisões decretadas. Mais que abuso de poder do Executivo local, trata-se de uma afronta aos cofres públicos, pois representa a falta de compromisso do governador, que criticou durante a campanha de 2018, o modelo do Instituto Hospital de Base, com argumentos de falta de transparência, compras malfeitas, gastos elevados, altos salários do corpo dirigente, contratações temporárias, regime precário e comissionamentos irregulares. O que mudou dos argumentos do passado para as práticas do presente?

Qual seria a saída para tamanha crise que coloca em risco a saúde e a vida de milhares de pessoas? Não é apenas reagir aos fatos sempre de caráter urgente, no apagar das luzes, mas sim mostrar à população que esse Governo não tem compromisso com o SUS, não sabe sequer seu valor, logo, não governa, desmantela a Secretaria de Saúde, e, junto com ela, o fim agonizante do SUS.

Também representa o esvaziamento de uma Secretaria que tem por missão organizar Redes Integradas de Serviços regionalizados, hierarquizados, descentralizados, e sob controle dos seus usuários; bem como o não investimento nos servidores públicos que, há décadas, vem dedicando suas vidas para transformar a SES-DF em uma instituição capaz de ofertar ações e serviços de saúde com qualidade para cuidar, de forma humanizada e acolhedora, da saúde integral das mulheres, crianças, jovens e adolescentes, adultos, trabalhadores nos mais diferentes agravos, desde a prevenção, promoção, tratamento e reabilitação.

E, mais, representa o claro posicionamento do governo que não preza pelos valores da democracia e pelos direitos de cidadania. Pensa que ser governador é ser dono do patrimônio do povo do DF e assim poder leiloar os bens da saúde ao bel prazer. Triste como nosso Executivo não entende de saúde e ainda é mal assessorado. Prova disso são os posicionamentos abertos às políticas de privatização do SUS, que vão desde os hospitais às Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), transformando-se em garoto-propaganda e incentivador do desenvolvimento do mercado da saúde na capital da República.

Esses males já conhecemos. Se não agirmos, seremos portadores de tantos outros vírus que vem desnudando as crises mais desumanas no DF, fruto de capitalismo perverso e desmedido em sua sede de enriquecimento às custas das dores e mortes da nossa gente.

É urgente que não percamos nenhuma oportunidade para reversão desse quadro, sendo ousados, criativos e comprometidos com um outro modelo de Estado: firme, presente, responsável e cuidador das expectativas, sonhos e esperanças de cada indivíduo, família e comunidade. Só assim evitaremos que o SUS entre de vez na cavalaria da privatização.

O governador precisa explicar à população para onde foram os repasses de recursos federais, por que deixou perder a validade dos insumos vindos da China, o porquê de não ter se consorciado a outros governadores na busca ativa por vacina, pela falta de informação transparente e segura à população quanto ao cumprimento das medidas sanitárias, porque não multa as autoridades federais que circulam pela cidade descumprindo os protocolos de segurança e seus decretos e, mais grave, por que colocou os parlamentares de sua base de apoio na CLDF para impedirem a instalação da CPI da Covid. Se não sabia gerir os bens públicos, por que fez falsas promessas ao povo já sofrido pelos descasos históricos da implantação do SUS no DF?

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