Está nas mãos de 81 senadores a chance de evitar que o Congresso protagonize uma vergonha sem precedentes. Falo do retorno das coligações nas eleições do ano que vem. Aprovada a toque de caixa pelos deputados, a proposta permite que partidos das mais diferentes linhas ideológicas concorram como se fossem apenas um na disputa por uma cadeira na Câmara e assembleias estaduais. Foi assim em 1990, 1994, 1998, 2002, 2006, 2010, 2014 e 2018.
Em 2022, como aprovado na minirreforma eleitoral de 2017, será a primeira vez que uma eleição geral não terá a distribuição de cadeiras por coligações. Mas os deputados querem mudar isso por um só motivo: casuísmo. A maioria dos atuais 513 ocupantes de uma cadeira na Câmara sabe que corre sério risco de não se reeleger daqui a pouco menos de 14 meses. Se, em 2018, o eleitorado decidiu varrer do mapa muitos dos nomes da “velha política”, com o fim das coligações partidárias na disputa proporcional, a faxina tende a ser ainda maior. E é isso que eles querem evitar. A todo custo.
Veja bem o resultado de um estudo feito pela Secretaria-Geral da Mesa da Câmara sobre o impacto do fim das coligações, caso a regra tivesse sido aplicada em 2018. Metade dos 30 partidos que conseguiram eleger pelo menos um deputado federal perderia cadeira. A lista é longa. PP, PSB, PRB, DEM, PDT, Solidariedade, Podemos, PTB, PCdoB, PHS, PRP, PMN e PTC teriam conquistado uma bancada menor. Mas os mais “prejudicados” seriam outros dois. O PPS, que cairia de oito deputados eleitos para três; e o PPL, que ficaria sem o único parlamentar a garantir vaga.
Assim, não se enganem, os políticos que representam o fracasso do sistema político brasileiro são favoráveis ao retorno das coligações. Olham para o próprio umbigo, independentemente de partido ou de ideologia. Afinal, para eles, não tem problema algum votar no PT e eleger, por exemplo, um tucano. Ou, se for caso, dar um voto para um socialista e um deputado do PSL conquistar a vaga. Quem não se lembra do fenômeno eleitoral Tiririca em 2010? Campeão absoluto de votos em São Paulo pelo PR, ajudou a eleger deputados para o PCdoB, PT e PRB, por exemplo. É desvirtuar muito a escolha do eleitor, não é verdade?
O fim das coligações é a chance de dar uma repaginada na configuração política do país. Vai colocar um freio nos nanicos. Diminuirá a fragmentação partidária. O Senado tem o dever de dar um basta no retrocesso. É o mínimo que se espera.
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