Entrevistar sobreviventes do campo de extermínio de Auschwitz é uma experiência aterradora. E uma lição de vida. É possível extrair uma série de aprendizados de quem se agarrou a um fio de esperança como se fosse um tesouro. De quem lutou por uma batata boiando no esgoto sabendo que dali dependia a própria resistência. De quem encarou a morte de perto, quando, por algum motivo, a câmara de gás não funcionou. De quem foi cobaia do médico nazista Josef Mengele e teve germes injetados no corpo. De quem escutou o barulho seco dos fuzilamentos no paredão da morte. Ou precisou ser separada dos pais, ainda criança, sabendo que dali iriam para o crematório. Por trás da máquina de matar do nazismo, está a mesma raiz ideológica cultuada por tantos no Brasil e no mundo: o preconceito, a superioridade racial, a xenofobia, a intolerância religiosa. Tudo se resume em uma única palavra: ódio.
Nos últimos meses, atores e governos de alguns países cortejaram símbolos nazistas e ideologias nefastas. Quem não se lembra do bizarro pronunciamento de Roberto Alvim, ex-secretário de Cultura do governo Jair Bolsonaro, ao utilizar frases de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda de Adolf Hitler, e encenar os gestuais do nazista? Quem não se recorda de fanáticos com tochas marchando diante do Supremo Tribunal Federal? Ou do assessor internacional da Presidência da República fazendo gestos racistas no Senado? A mais recente e igualmente bizarra demonstração de consideração com o extremismo envolveu uma reunião de Bolsonaro com (pasmem!) a deputada alemã Beatrix von Storch, vice-líder do partido xenofóbico Alternativa para a Alemanha (Afd) e neta do ministro das Finanças de Hitler. Beatrix verbalizou a ideia de abrir fogo contra mulheres e crianças que tentassem entrar no país e comparou os imigrantes a estupradores.
O que o presidente tem a ganhar recebendo no Planalto alguém assim? A audiência, fora da agenda oficial, com uma representante de um partido considerado pária pelas pessoas de bom senso levou Bolsonaro a se indispor com os judeus. Sim, seguidores do brasileiro adoram ostentar a bandeira de Israel nas passeatas antidemocráticas. E Bolsonaro conseguiu ofender Israel, a pátria dos sobreviventes e dos assassinados por Hitler.
Outra exibição de estupidez veio da Hungria, onde o governo do premiê Viktor Orbán aprovou legislação que compara gays a pedófilos e proíbe a promoção da “homossexualidade” a menores de 18 anos. Devemos sensatez, respeito às diversidades e ao próximo. Devemos isso a nós mesmos, à nossa sanidade mental e à nossa condição de humanos. Mas também aos sobreviventes do Holocausto. Devemos sepultar qualquer traço de ódio ou qualquer aceno ao nazismo. Pela esperança de um mundo melhor e pelos milhões de mortos por Hitler e seu gado.