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Diversidade brasileira em Tóquio

Como se não bastasse essa ser a competição mais equilibrada em termos de gênero — 51% dos atletas são homens e 49%, mulheres —, podemos dizer que ficará marcada por lições de tolerância e de respeito às diferenças

As Olimpíadas sempre foram um momento especial para mim e minha família. A cada quatro anos, costumávamos reunir os amigos para torcer por nossos atletas e brindar a vida. Imagina a minha felicidade quando, em 2016, pude, ao lado do meu marido e dos meus filhos, presenciar alguns jogos, no Rio de Janeiro. Ver o Brasil ganhar o ouro no vôlei masculino, em um Maracanãzinho fervente, é algo que guardo nas melhores lembranças até hoje.

O esporte tem esse dom de unir, agregar e trazer esperança. Por isso, a tristeza me tomou conta com a aproximação da atípica olimpíada de Tóquio: sem público, sem confraternização dos atletas e sem as tradicionais festas dos torcedores pelas arquibancadas e ruas da cidade-sede. Da minha parte, também não poder aglomerar com os amigos para ver o maior espetáculo esportivo da Terra dava uma aperto no coração.

A minha tristeza, porém, foi amenizada por notícias que chegam do outro lado do planeta. Ou melhor, transformou-se em orgulho e alegria, mesmo diante de toda a tragédia que temos vivido no último ano e meio. Como se não bastasse essa ser a competição mais equilibrada em termos de gênero — 51% dos atletas são homens e 49%, mulheres —, podemos dizer que ficará marcada por lições de tolerância e de respeito às diferenças.

Ensinamentos que vêm de atitudes como a de Paulinho, titular da Seleção Brasileira de futebol. Em um belo texto publicado no The Players Tribune Brasil, plataforma que oferece aos atletas a oportunidade de compartilhar com os fãs sua história, ele foi além disso. Falou sobre os preconceitos que as religiões de matriz africana sofrem no país e revelou o orgulho que sente do candomblé e a umbanda.

“Religião, não. Prefiro chamar de filosofia de vida. Uma coisa bem pessoal, que toca o meu coração. Sou eu comigo mesmo, entende? Cultuar essa filosofia me traz muita energia boa, muito axé”, disse. Paulinho também não se furtou de falar de política: “Se sou crítico do atual Governo, é porque eu confio na ciência”. E concluiu: “Como uma pessoa que tem voz, eu não posso me dar o direito de permanecer calado. De não me posicionar diante de preconceitos e negligências”.

É exatamente isso que outro atleta brasileiro tem feito, ao seu modo. De maneira descontraída e brincalhona, Douglas Souza, ponteiro da seleção de vôlei, tem conquistado fãs na internet ao mostrar os bastidores da Vila Olímpica — e, de quebra, abordar com naturalidade o homossexualidade. Único representante LGBTQIA+ em um meio tão machista, não é pouco o que o atleta tem feito.

Assumir sua orientação sexual de forma tão leve e espontânea é um ato de coragem e resistência. Em entrevista, a própria mãe dele diz se preocupar com a repercussão, porque sabe o quanto o filho já foi atacado por ser gay.

É por atletas como Paulinho e Douglas que vale a pena torcer ainda mais por nossa nação. Que Exu ilumine nosso Brasil! Nossa torcida está ON!