Bela homenagem na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Tóquio à ativista, cantora, escritora e artista plástica japonesa Yoko Ono na releitura da música Imagine. A canção foi composta pelo companheiro dela, em 1971, inspirada justamente em textos da parceira. Mas há bem mais do que Imagine na relação entre Japão, esporte e The Beatles.
O país-sede da 32ª edição dos Jogos tem seu “Maracanã”. Não estou me referindo ao futebol, mas, sim, ao judô. Os combates do esporte que mais rendeu medalhas ao Brasil (22) — quatro ouros, três pratas e 15 bronzes — serão disputadas no Nippon Budokan, o templo sagrado das artes marciais na terra do sol nascente. Poucos ousaram “profaná-lo”.
Erguido para os Jogos de Tóquio-1964, o complexo fica a 3km da primeira escola de judô do Japão — a badalada Kodokan. O Nippon Budokan teve um de seus “maracanazos”, talvez o maior deles, justamente naquela edição da Olimpíada.
Primeiro campeão mundial de judô não nascido no Japão, o holandês Anton Geesink silenciou o Nippon Budokan ao conquistar a medalha de ouro contra Akio Kaminaga, um dos ídolos do país anfitrião à época. Geesink morreu em 2010. Não sem antes receber uma distinção do governo japonês: a Ordem do Tesouro da Felicidade Sagrada.
Dois anos depois, houve outro “maracanazo” no Nippon Budokan. A estrutura grandiosa foi eleita, em 1966, para receber três concertos da turnê da banda The Beatles pelo Japão. Os conservadores teriam considerado a escolha uma blasfêmia à meca do judô.
Paralelamente, o quarteto de Liverpool, que se apresentava na Alemanha, teria recebido ameaças de morte antes do embarque rumo a Tóquio. A segurança de John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr teve de ser reforçada no Japão. Uma das cartas intimidava o baterista do grupo inglês com a mensagem: “Você não continuará vivo”.
O concerto no Nippon Budokan reuniu 10 mil fãs e demandou 3 mil policiais. No documentário Anthology, George Harrison fala sobre a blindagem dos seguranças nos concertos. “Se você olhar as gravações dos shows, dá para ver um policial em cada fileira. As pessoas se animavam nos assentos, enquanto tocávamos, mas não podiam expressar isso. Foram muito restringidas do que podiam fazer e como podiam responder a nós”, disse.
Cinquenta e cinco anos depois, o “Maracanã” do Japão estará novamente em silêncio nas competições de judô. Os vilões, agora, não são Anton Geesink nem os três mil policiais da turnê do Beatles. As lutas serão sem público. A pandemia aplicou ippon, o golpe perfeito, na meca das artes marciais. Que o silêncio no Nippon Budokan ecoe o som do ouro, prata ou bronze dos judocas brasileiros. Força para a brasiliense Ketleyn Quadros e companhia!