OPINIÃO

Lutar e resistir: Dia Internacional da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha

Correio Braziliense
postado em 31/07/2021 06:00
 (crédito: Maure)
(crédito: Maure)

Por NILZA CHAGAS e ANA TOLENTINO — Militantes do Movimento Negro, diretoras sindicais, responsáveis pela Secretaria de Gênero e Combate à Discriminação Racial do Sindicato dos Trabalhadores Federais da Saúde, Trabalho e Previdência no Rio Grande do Sul (Sindisprev/RS)

Vinte e cinco de julho é um marco internacional da luta e da resistência da mulher negra para reafirmar a necessidade de enfrentar o racismo e o sexismo vividos até hoje. No Brasil, celebramos, também, o Dia Nacional de Tereza de Benguela, líder quilombola que se destacou pela resistência à escravidão das comunidades negra e indígena.

A data é importante para não esquecermos o que mulheres negras passaram, e para que possamos questionar o que ainda se passa numa realidade interseccionada pela classe social, raça/etnia, gênero e sexualidade, numa perspectiva de caminhar rumo ao fim da exploração e da opressão que permeia a vida das mulheres afro-latino-americanas e caribenhas.

Se, antes da pandemia, a situação era problemática, agora, com o agravamento dela e do elevado número de casos de infecção e mortes, vemos a vulnerabilização das situações que envolvem mulheres negras ainda mais escancarada. No tocante ao Brasil, país de periferia do capitalismo mundial, cuja formação é atravessada pelo racismo e pelo patriarcado imbricados, percebemos que o processo colonial, ainda que circunscrito na lógica do capital, segue presente em toda a dinâmica de vida em sociedade; e, assim, perpassa diretamente pelo campo do trabalho.

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres negras são o maior grupo demográfico do país, representando 28% da população, porém, é o grupo com as piores condições no mercado de trabalho, podendo receber até 44% menos que um trabalhador branco, em condições de trabalho formal, mas ocupando, junto a homens negros, as maiores taxas de informalidade e subutilização da força de trabalho.

Fanon apontava os impactos que o processo colonial provocou e provoca no campo psíquico da comunidade negra. A pandemia intensificou essa realidade, pois, além das exposições diretas, vivenciamos uma piora nas condições de vida e sobrevivência no Brasil por meio da precarização e do aumento dos custos de reprodução social. Nisso, as mulheres negras são as principais atingidas, uma vez que os dados indicam que há mais chefes de família negras no país do que brancas.

Também nessa linha, observamos que as mulheres negras precisam atentar mais para questões de manejo do luto (dados os números de maior morte por covid-19 atingirem diretamente a população negra) e dos processos de ansiedade, medo, desânimo, entre outros, que se relacionam com a dinâmica racista e machista que antecede a pandemia e se intensifica nela.

O isolamento social foi um ambiente propício para maior incidência de violência doméstica: física, psicológica e patrimonial. Nessa incidência, há uma política de invisibilizar essas vítimas por parte do Estado, com ocultação de dados de raça/etnia, orientação sexual e identidade de gênero. Somado a isso, devido a fatores sanitários, a dificuldade para novos registros de boletins de ocorrência fez com que as notificações de violências domésticas diminuíssem drasticamente, ao mesmo passo em que os números concretos de violência venham crescendo cada vez mais. Manter-se forte diante dessa realidade é uma necessidade e um desafio para as mulheres, em especial as negras.

O Sindicato dos Trabalhadores Federais da Saúde, Trabalho e Previdência no Rio Grande do Sul (Sindisprev/RS), por meio da Secretaria de Gênero e Combate à Discriminação Racial, associada à Secretaria de Saúde do Trabalhador, atua diretamente nas expressões concretas da questão social que permeiam a vida de muitas trabalhadoras negras federais. Não é à toa que, no período de pandemia, o número de atendimentos aumentou rapidamente e, nesses atendimentos, explicitou-se mais ainda questões que envolvem o campo da saúde mental.

No trabalho presencial, as mulheres negras são muito exigidas, quando na linha de trabalho remoto, elas vêm desempenhando papel central e, com isso, acabam tendo de aguentar uma grande sobrecarga e desvalorização, gerando fluxos que, quando associados às duplas e às triplas jornadas de mães, esposas, donas de casa e trabalhadoras, podem culminar em processos de esgotamento, como é o Burnout. Nesse sentido, importa muito a qualificação de profissionais para atendimento humanizado e que compreenda os matizes da saúde mental da população negra.

Nesse 25 de julho, reafirmamos que a organização das mulheres negras, enquanto trabalhadoras, é essencial para frear ataques e avançar rumo a novas conquistas. Não somos heroínas, somos resilientes e exigimos nossos direitos. Nossas vidas importam.

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