Visão do Correio

Visão do Correio: Retorno incerto

Correio Braziliense
postado em 23/07/2021 06:00 / atualizado em 23/07/2021 08:33
 (crédito: Caio Gomez/CB/D.A Press)
(crédito: Caio Gomez/CB/D.A Press)

Tímido e ainda discreto na própria estatística oficial, o emprego com carteira assinada volta a animar as agências de recrutamento de mão de obra. As contratações começam a voltar, indicando ao menos a recomposição de postos de trabalho que foram eliminados em meses dramáticos de faturamento das empresas desde o ano passado, principalmente do setor de serviços e do comércio, os mais afetados pelos efeitos da pandemia de covid-19. São vagas estimuladas por ambiente de menos restrições à circulação dos brasileiros, associadas ao desempenho de segmentos que mantiveram expansão, como é o caso do agronegócio e os hipermercados, e à parcela das atividades puxadas por necessidades como o reforço das equipes nos hospitais e a produção de equipamentos de proteção individual contra o vírus.

Num país em que o desemprego assusta e resiste a entrar na lista tão festejada pelo governo de indicadores econômicos em recuperação, já seria tempo de analisar em detalhe o retorno tão aguardado dos postos de trabalho. Reportagem do Estado de Minas mostrou o perfil das admissões formais em Minas Gerais com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia, divulgados de janeiro a maio.

O perfil dos contratados é semelhante ao que se observa no Brasil. Do saldo de 1.233.372 de empregos com registro nos primeiros cinco meses de 2021, os homens foram beneficiados por 58,95% do total, o equivalente a 727.095 oportunidades, descontadas as dispensas. Às mulheres, foram oferecidas 506.277 colocações no mercado formal, representando 41,05%.

Os jovens de 18 a 39 anos concentraram 84,1% dos empregos abertos no país, universo de 1.037.315 vagas e quase dois terços dos contratados têm o ensino médio completo ou incompleto, neste último grau de formação, em parcela bem inferior, de 7,28% do saldo nacional. Os candidatos com o ensino superior preencheram 18,8% dos postos de trabalho criados de janeiro a maio.

A recuperação do emprego formal deve ser vista também com cautela quando se avalia a geração de vagas por setor da economia. Os prestadores de serviços — os quais, em boa parte, apenas começaram a recuperar o negócio após períodos intercalados de fechamento e reabertura devido às medidas de distanciamento social para conter o avanço do coronavírus — garantiram a criação de 509.101 cargos, descontadas as demissões. Esse universo representou 41,27% do balanço nacional de janeiro a maio. Na segunda posição, ficou a indústria, com 23,6% (290.578 postos de trabalho), seguida do comércio, que respondeu por 13,2%, ou seja, 162.866 vagas com registro.

Como uma nação que busca reduzir desigualdades não se preocupa, ainda, com o número maior de demissões do que as contratações de pessoas com mais de 50 anos de idade? O saldo do emprego foi negativo em 13.357 vagas na faixa de 50 a 64 anos e em 29.905 entre os brasileiros com idade a partir de 65 anos.

Há de se considerar que a estatística do Caged não contempla o comportamento do emprego e da renda no Brasil sem carteira de trabalho. A última edição da Pnad, do IBGE, que capta esse movimento, não mostrou, de fevereiro a abril, variação significativa da população ocupada no país, que somava 85,940 milhões, queda de 0,1% ante o trimestre móvel anterior. A pesquisa referente a maio será divulgada no próximo dia 30.

O Mapa do Emprego mostrado pelo Caged indica que o país precisa de políticas públicas para geração de vagas. Há mais de seis meses, o governo informou que o Ministério da Economia estudava a criação de um modelo de contratação com menos encargos de trabalhadores de baixa renda, nova versão do programa batizado de Carteira Verde Amarela. A iniciativa foi proposta por meio de medida provisória encaminhada ao Congresso, e que perdeu validade no ano passado, enquanto tempo e esforço político foram consumidos na aprovação de aumento impressionante do Fundão eleitoral, de quase R$ 6 bilhões em verba de campanha eleitoral para os partidos. O desemprego cresceu de 14,2% para 14,7% de fevereiro a abril e afeta 14,761 milhões de brasileiro. É preciso avaliar de que tipo de previsão de crescimento da economia o governo e o mercado financeiro falam.

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