Visão do Correio

Artigo: Alta geral de preços

Correio Braziliense
postado em 07/07/2021 06:00

A prorrogação do auxílio emergencial por mais três meses e a redução dos preços dos alimentos in natura trazendo alívio na feira poderiam até ser notícias com impacto positivo numa agenda hoje inundada pelas crises da pandemia e da política, mas não. Os R$ 150 para quem mora sozinho ou R$ 250 na média e ainda R$ 375 para mulheres que criam os filhos sozinhas valem cada vez menos com os sucessivos aumentos de preços diretos dos alimentos básicos (carnes, óleo de soja, soja, milho etc.) e de insumos como gás de cozinha, energia elétrica e combustíveis. Esses reajustes pressionam produção e serviços e forçam aumento de preços ao longo da cadeia produtiva de praticamente todos os setores. Toda a sociedade sofre com esses aumentos.

Sem estoque regulador, com escassez de chuvas em um sistema elétrico extremamente dependente de fonte hídrica, na esteira dos preços internacionais dos combustíveis e com as contas públicas desajustadas, o Brasil se vê refém de poucas alternativas para impedir que o brasileiro sofra os efeitos do aumento exagerado do custo de vida. A gasolina e o diesel ficaram mais caros nas refinarias, mas os aumentos nos postos são automáticos e simultâneos diante da oportunidade de fazer lucro com estoque antigo, o que é legal, mas oportunista, uma vez que, nas reduções de preços, a rapidez não é a mesma.

A gasolina subiu 6,3%, o gás liquefeito de petróleo, 5,8%, e o diesel ficou 3,7% mais caro nos primeiros reajustes desde que o general Joaquim Silva e Luna assumiu o comando da estatal há quase três meses. A nova gestão alargou a periodicidade dos reajustes, mas a paridade com os preços internacionais e a variação do câmbio continuam e foram elas que promoveram outras mudanças de preços desde janeiro. Com o petróleo negociado a quase US$ 75 o barril em Londres, contra US$ 55 antes da pandemia, os aumentos vão continuar. Combustíveis caros pressionam cidadãos e empresas e trazem de volta o fantasma de uma greve dos caminhoneiros nos moldes da que ocorreu em maio de 2018.

No caso do gás de cozinha, que impacta principalmente as famílias mais carentes, a alta no ano já chega a quase 38%. Não há que se falar em intervir na política de preços da estatal – no passado recente isso foi desastroso —, mas a quietude do Ministério da Economia em relação aos preços agrava o quadro de crise econômica gerado pela existência de mais de 14 milhões de desempregados e o esmagamento da renda do trabalhador diante dessa aceleração dos preços. A equipe econômica parece de mãos atadas. O que era visto como aumentos conjunturais há pouco tempo, hoje se tornaram estruturais, com a crise hídrica, que vai manter a energia mais cara até o fim do ano.

A energia mais cara é a que falta. Mas os aumentos provocados pela escassez de chuvas cheiram a falta de planejamento e acompanhamento. Muito embora o governo fale que adotou medidas desde outubro do ano passado, contou com chuvas que não vieram. Este ano, se as precipitações ficarem abaixo da média, é grande a possibilidade de termos apagão em 2022, com elevação expressiva do custo da energia. E não se ouve falar em adotar o horário de verão, que poderia economizar água nos reservatórios das usinas. Os aumentos de preços corroem a renda e pressionam custos, mas mais grave do que eles é a falta de expectativa diante da inoperância do governo em adotar medidas para minimizar os impactos sobre a sociedade.

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