OPINIÃO

Artigo — NFT: uma nova revolução no mundo digital

Correio Braziliense
postado em 06/07/2021 06:00

Por REINALDO BIANCHI — Professor titular do Centro Universitário FEI, bacharel em física, mestre e doutor em Engenharia elétrica

Você já criou um meme? Talvez você ainda não tenha ouvido falar, mas seu meme pode até valer um bom dinheiro. Em 28 de abril, aquela foto de uma garotinha sorrindo sadicamente em frente a um prédio em chamas, compartilhada milhares de vezes em redes sociais, foi vendida por US$ 473 mil (R$ 2,5 milhões) ao ser transformada em NFT, sigla para Token Não Fungível, uma terminologia que parece ter saído de uma ficção científica.

Na área de tecnologia, token é como se fosse uma ficha, um contrato que representa um ativo (real ou digital); “não fungível” significa que é único e não pode ser substituído por outra coisa. Uma cédula de 100 reais é um objeto “fungível”, pois pode ser trocada por duas notas de 50 reais sem perda de valor. Por outro lado, uma obra de arte ou bens produzidos em série limitada não são “fungíveis”: são únicos, personalizados. A boa notícia é essa. Finalmente foi criado um mecanismo que garante a propriedade de bens digitais.

Com isso, ficou mais fácil comercializá-los, pois os NFT facilitam as transações de compra e venda. Se Picasso produzisse obras de arte digitais, o NFT poderia ser uma espécie de assinatura ou atestado de autenticidade, que liga a sua arte a ele mesmo. Agora, imagine que Picasso tenha vendido esta obra e o seu atual dono a tenha colocado em um museu para apreciação pública. É mais ou menos isso o que o NFT faz. Permite que outros usufruam do bem sem prejudicar o valor da obra para seu proprietário ou investidor.

Isso abre um enorme campo inexplorado para empreendedores. Artistas, músicos, influenciadores e vários outros produtores do mundo virtual podem monetizar bens que antigamente eram gratuitos ou fáceis de serem copiados. Segundo um relatório feito pelo NonFungible.com, uma empresa de análise de mercado NFT, com o apoio do L’Atelier BNP Paribas, o mercado de tokens não fungíveis (NFT) chegou a US$ 250 milhões em 2020, 299% maior que em 2019. O estudo diz que o NFT será uma classe de ativos emergentes para a economia nos próximos anos e um grande impulsionador da atividade econômica em mundos virtuais. Afinal, a tendência é de que as pessoas gastem cada vez mais tempo e dinheiro on-line.

A má notícia é que o impacto ambiental desta indústria nascente é astronômico. Ao criar, vender ou comprar um NFT, são liberadas milhões de toneladas de gases de efeito estufa na atmosfera. Isso ocorre porque o NFT é codificado usando blockchain, a mesma tecnologia por trás das criptomoedas como a bitcoin, que é particularmente danosa para o meio ambiente. Cada bloco de dados que representa uma compra de bitcoins ou uma transferência de NFT é adicionado a uma corrente, em um processo conhecido como mineração, feito por computadores que consomem quantidades assombrosas de energia para processamento. Precisamos lembrar que, em 2016, a geração de energia por combustíveis fósseis ainda representava 67,3 % da produção global.

Um estudo da Universidade de Cambridge revelou que a mineração de bitcoin consome, hoje, mais energia do que a Argentina. Há também quem diga que, anualmente, as emissões de carbono da bitcoin equivalem às da cidade de Londres. Ou a uma viagem de São Francisco a Nova York realizada 15 mil vezes. Para neutralizar suas emissões de carbono, seria necessária uma floresta hipotética do tamanho de Portugal. E outros afirmam que só a bitcoin pode aumentar a temperatura da Terra em dois graus. Ou seja, um impacto nada desprezível.

Com todas essas implicações para o meio ambiente, há quem questione se os subprodutos da tecnologia blockchain, como as criptomoedas e o NFT, seriam éticos em um mundo que está se movimentando, a grande custo, para zerar as emissões de carbono. Elon Musk, fundador da Tesla, que desistiu de aceitar bitcoins para a compra de veículos, disse recentemente que as criptomoedas são uma boa ideia, mas não podem prejudicar o meio ambiente. Com isso, o próximo passo lógico seria encontrar formas de tornar essa tecnologia “verde” para que ela alcance todo o seu potencial em benefício da sociedade. A rede Ethereum, que cria e armazena os NFT, já está se movimentando nesse sentido ao migrar para um modelo que usa uma quantidade muito menor de processamento de dados. Se for bem-sucedida, o NFT, além de revolucionar o mundo digital, poderá ser também uma tecnologia limpa. Com isso, podemos esperar um grande crescimento do uso e do valor dos NTFs em breve, o que torna esse investimento revolucionário bastante interessante.

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