Um monstro que assombrou bastante e por muito tempo o Brasil, o dragão da inflação, ameaça pôr as asinhas de fora e pode ser mais um empecilho à ensaiada recuperação da economia, combalida pela pandemia. O índice oficial (IPCA), medido pelo IBGE, de 0,83% em maio, teve forte alta em relação ao verificado em abril (0,31%), e o acumulado em 12 meses (8,06%) está bem acima do teto da meta anual, de 5,25%.
Em meio à alta generalizada de preços, que obviamente atinge mais diretamente os mais pobres, a elevação preocupa especialmente em alguns setores, como o de alimentos, sobretudo carnes, que acumulam variação de 38% em 12 meses, e do gás de cozinha. Com o décimo quinto aumento consecutivo do insumo autorizado pela Petrobras na semana passada, o preço médio do botijão de 13 quilos para o consumidor passou dos R$ 100 em algumas capitais.
A alta do custo de vida corrói a já achatada renda das famílias, num cenário de desemprego recorde, com taxa de 14,7% no primeiro trimestre e um contingente de desocupados que se aproxima dos 15 milhões. E com quase 40 milhões de brasileiros se valendo do socorro do auxílio emergencial do governo federal. O benefício, porém, que varia de R$ 150 a R$ 375, dependendo do perfil de cada família, embora seja bem-vindo e alivie muita gente, é pequeno diante de preços tão altos de comida e gás, entre outros itens básicos.
Urge, portanto, conter o monstro. Nesse sentido, foi sintomático o apelo feito recentemente pelo presidente Jair Bolsonaro, em reunião com empresários de vários segmentos, para que segurem os reajustes de preços neste momento de inflação mais agressiva. Também de olho na tendência inflacionária, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou, na última quarta-feira, em 0,75 ponto percentual a taxa básica de juros da economia (Selic), para 4,25% ao ano e já sinaliza com novas altas.
Trata-se, no entanto, de remédio amargo, já que juros mais altos encarecem o crédito e inibem investimentos que podem alavancar a retomada do crescimento. Enquanto isso, o remédio mais eficaz para dar o impulso necessário à economia, que é a vacinação contra a covid-19, continua em ritmo mais lento que o desejável. A primeira dose da vacina não chegou ainda a um terço da população. E menos da metade desse contingente tomou a segunda dose.
Como já dito aqui e repetido inúmeras vezes, acelerar ao máximo a imunização é fundamental, não só para estancar a tragédia na saúde pública, como também para a recuperação econômica.