Faltando ainda quase um ano e meio para as eleições de 2022, a campanha corre solta pelo país, com articulações de bastidores, reuniões partidárias e corpo a corpo de pré-candidatos com o eleitor. Em tese, a pandemia de covid-19, que matou mais de 480 mil brasileiros, deveria ser motivo para retardar o início da campanha. Mas, ao contrário, ela tem sido o maior combustível para essa corrida e está cada dia mais inflamável.
Enquanto a oposição usa a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado para bater forte no governo — apontando erros cometidos pelo Palácio do Planalto desde o início da pandemia, como não ter comprado vacinas no momento certo —, o presidente Jair Bolsonaro tem promovido motociatas pelas capitais brasileiras no fim de semana, com apoio de milhares de eleitores. O ex-presidente Lula, o ex-ministro Ciro Gomes e outros ainda não saíram às ruas, mas suas declarações e encontros com lideranças estaduais deixam evidente que estão com foco total em 2022. E outros partidos também se articulam para lançar um nome capaz de representar uma alternativa viável à polarização reinante no país.
A antecipação do clima de campanha não fica apenas no nível federal. O prefeito Alexandre Kalil (PSD) e o governador Romeu Zema (Novo), candidatos naturais ao governo de Minas em 2022, começam a se estranhar e a trocar mais farpas do que de costume. É fato que eles nunca foram próximos e mal conversaram nesses dois anos e meio para discutir temas importantes para a capital e o estado, mas a partir de agora a tendência é de que os ataques entre eles se tornem mais frequentes.
Nesta semana, em duas oportunidades, Kalil alfinetou Zema: ‘Não estamos só com o presidente Bolsonaro, não. A gente tem o governador de Minas em campanha. Cada dia ele está numa cidade fazendo campanha”, disse o prefeito em entrevista na segunda-feira ao ser perguntado sobre as motociatas do presidente. Ontem, em outra entrevista, ele voltou ao ataque. Disse que Zema ficou ao lado de quem não defende a vida ao se referir à ligação do governador com Bolsonaro.
Em vez da antecipação de uma situação que, inevitavelmente, monopolizará as atenções em 2022, os governantes poderiam se concentrar no momento na “briga” de quem consegue vacinar mais pessoas nos estados e municípios. João Doria, Eduardo Leite, Flávio Dino e Eduardo Paes são exemplos de gestores que têm se “desafiado” nas redes sociais para divulgar o calendário de imunização nos seus estados e municípios. Essa, sim, é uma saudável disputa — na qual todos saem ganhando.