Jornal Correio Braziliense

OPINIÃO

Artigo: Nossa língua portuguesa

O título da coluna é uma homenagem ao extinto programa do professor Pasquale Cipro Neto, de quem sou fã, na TV Cultura. Mas o tema, aqui, é a ilíada e a odisseia dos países adeptos do idioma de Camões com a bola nos pés. Somos tão complexados com nosso vernáculo que deixamos passar uma raridade em tempos de Copa América e Eurocopa.

O atual campeão continental desta banda do Oceano Atlântico fala português. O Brasil defenderá o título do torneio, a partir deste domingo, contra a Venezuela, no Mané Garrincha. Além-mar, Portugal iniciará, na terça-feira, a expedição rumo ao bi da Eurocopa.

Nunca antes na história os dois torneios foram dominados, ao mesmo tempo, por duas das nove nações da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Nem nos tempos do Rei Pelé e do Príncipe Eusébio. Os outros sócios são Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

Dois dos quatro jogadores mais badalados do mundo falam português — as exceções são o argentino Messi e o francês Mbappé. A Eurocopa se divertirá, quem sabe pela última vez, com o gajo Cristiano Ronaldo. Eleito cinco vezes melhor do mundo, o astro de 36 anos conta com uma seleção mais forte — talvez a melhor — para a campanha pelo bi. Há talento em todas as posições. Os lusitanos estão entre os favoritos aos títulos da Euro e da Copa 2022.

Por essas bandas, a estrela é Neymar. A relação do eterno candidato a melhor do mundo com a Copa América é estranha. Em 2011, tinha 19 anos naquela eliminação nas quartas de final em que o Brasil errou todas as cobranças de pênalti contra o Paraguai.

Em 2015, foi banido da edição disputada no Chile por agredir colombianos. Pediu férias a Dunga na versão centenária de 2016. Ironicamente, foi ao estádio Rose Bowl, nos EUA, ver o jogo da Seleção no camarote com os parças Jamie Foxx, Justin Bieber e Lewis Hamilton. Não participou do título de 2019. Motivo: machucou-se no amistoso contra o Catar, em Brasília.

Nem só de Brasil, Portugal, Cristiano Ronaldo e Neymar vive a nossa língua portuguesa no futebol. No sábado passado, Cabo Verde venceu a Seleção olímpica de Pedro, Rodrygo, Gerson e Bruno Guimarães, por 2 x 1. Pense no “carnaval” em Praia, capital do país africano.

Temos outras ilíadas e odisseias para contar. Angola foi à Copa da Alemanha 2006. Cabo Verde, Guiné-Bissau e Guiné Equatorial estão classificados para a Copa Africana 2022.

Mas há também tristeza, saudade, melancolia. Autor do gol do título de Portugal contra a França na Euro-2016, Eder, o Ederzito, 33 anos, está fora do torneio em 2021. Amarga o desemprego. Como escreveu Camões em bom português, “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança”. Dura realidade.