OPINIÃO

Artigo: É hora de enfatizar também a eficiência energética!

Por Anton Schwyter — Sócio diretor da Energia 9 Consultoria, economista, doutorando e mestre pelo Instituto de Energia e Ambiente IEE/USP

Estamos assistindo, nos últimos dias, a notícias que pensávamos estarem distantes na memória. Estou me referindo à crise hídrica, que vem afetando a capacidade de armazenagem nos reservatórios de nossas usinas hidrelétricas, e a produção de energia no país. A hidroeletricidade tem importante papel na nossa geração de energia, representando cerca de 70% de nossa capacidade instalada, e, ao mesmo tempo, possui um atributo significativo enquanto fonte renovável. E uma boa parte desse sistema de geração se encontra instalado nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. Infelizmente, a falta de chuvas se concentra justamente sobre essas regiões, que só não é mais grave por conta de uma atividade econômica retraída.

Períodos secos ou úmidos se sucedem ao longo dos tempos, mas as pesquisas têm evidenciado que seus efeitos têm sido magnificados pelas mudanças climáticas. Em recente trabalho que participei, contratado pelo BID, sobre o efeito das mudanças climáticas nas redes de distribuição de energia do Sul do Brasil, constata-se que o clima está se alterando em várias regiões do país, necessitando nova forma de atuação por parte de empresas concessionárias, consumidores, e, também, dos órgãos de controle, planejamento e regulação. Em média, ventos derrubavam uma ou duas torres de transmissão por ano, agora, pode tem chegado a quase vinte torres por ano!

Temos uma verdadeira corrida para contratação emergencial de geração de energia, praticamente só de origem fóssil. O que resultará mais emissões de gases de efeito estufa, com aumento do custo da produção e do custo de vida e menos acesso à energia por quem tem menos renda. Mas deveríamos aproveitar também, para além da busca por obtenção de fontes adicionais de geração de eletricidade, refletir sobre a importância e o papel de medidas para eficiência energética e conservação de energia. Muitos irão contrapor que são medidas de efeitos a longo prazo. Em 2015, fiz parte de um grupo-tarefa montado pelo governo do Brasil e do Japão, para estudo de políticas mais efetivas de eficiência e conservação de energia no Brasil, a partir da experiência japonesa.

Tive oportunidade ir ao Japão e conhecer as iniciativas realizadas por lá. E lembro que somente haviam se passado quatro anos do terremoto de 2011, que foi seguido por tsunami que tirou de operação a Usina Nuclear de Fukushima, um gigante de 5 GW de capacidade. Mal comparando, imagine-se que um terço de Itaipu saísse do ar de um dia para o outro. Ainda na década de 1980, o Japão havia iniciado ações em direção à eficiência energética, com o Energy Efficiency Act, com definições sobre padrões de desempenho energético e requisitos de gerenciamento para todos os setores, bem como relatórios de energia e requisitos de gerenciamento para todos setores.

De acordo com a Agência Internacional de Energia, o Japão tem obtido sucesso em sua política de eficiência energética, pois, apesar do nível de atividade econômica e do uso mais intensivo de energia observarem crescimento, ainda assim o consumo de energia vem caindo como resultado das políticas de eficiência energética. Se não fossem as medidas de eficiência, o consumo de energia em 2017 teria sido 25 % maior, por exemplo.

Com maior interação entre os órgãos responsáveis pela política energética e planejamento, poderíamos migrar para um ambiente de geração de energia mais limpa e renovável, ao mesmo tempo otimizando e racionalizando o consumo de energia. Acredito que essa é a hora, também, para dar maior importância para a questão da eficiência energética e conservação de energia, com a criação de políticas perenes e abrangentes para não somente poder contribuir em momentos de emergência, mas, também, atuar permanentemente para melhoria das condições de sustentabilidade do sistema energético em termos ambientais e melhoria do acesso à nossa população mais carente.