Faço parte, com orgulho, do grupo de “idiotas” que permanece em casa. Como tenho o privilégio de trabalhar em home office, posso restringir minhas saídas aos dias em que minha presença no trabalho é indispensável, ou dar raras escapadas ao supermercado, à farmácia ou ao médico. Confesso que consigo contar quantas vezes coloquei o nariz para fora de casa, durante quase um ano e quatro meses de isolamento sanitário.
Tenho a consciência tranquila de que minhas únicas transgressões foram tão bem planejadas e executadas quanto justificadas: tive a urgência de rever uns poucos amigos. Não houve beijo no rosto, abraço ou sequer aperto de mão, que tiveram que ser substituídos por máscaras, distanciamento ao ar livre e álcool em gel. Tanto cuidado valeu a pena, pois o coração saiu reconfortado, recarregado para atravessar este período sombrio de negacionismo viral e genocida. Os psicólogos que me perdoem, mas acho que até eles sabem que aquelas poucas horas ao lado de pessoas queridas valeram mais que mil sessões de terapia.
O poder que a amizade tem de iluminar e arejar nossas vidas é bem conhecido. É uma questão de saúde — física e mental. Para escrever este texto, fiz uma breve pesquisa sobre o assunto, e um dado, em particular, chamou minha atenção. Em 2006, um estudo com quase três mil enfermeiras com câncer de mama concluiu que mulheres sem amigos próximos tinham quatro vezes mais risco de morrer da doença do que as que tinham 10 ou mais amigos.
Coincidentemente, no início da pandemia, fui diagnosticada com câncer de mama, e a rede de apoio de amigos e familiares que se formou em torno de mim, mesmo que a distância, ajudou muito durante o tratamento. Sentir-me amada e saber que havia tanta gente para me apoiar naquele momento difícil foi um alento importante.
Essa rápida pesquisa reforçou tudo que, intuitivamente, eu já havia aprendido com meus companheiros na caminhada da vida: estudos mostram que a amizade traz uma melhor resposta imunológica. Pessoas com menos amigos são duas vezes mais propensas a contrair gripes e resfriados, mesmo que estejam menos expostas, por terem menos contato social. Decidi, então, por minha conta e risco, pensar que isso também deveria valer para o coronavírus. Nestes dias pandêmicos, qualquer dose de esperança é valiosa.
Com a bênção da ciência, uma coisa posso garantir: ter amigos ajuda a curar a alma. Eu recomendo, sem moderação!