Visto, lido e ouvido

Desde 1960

Refazendo os caminhos

Com a polarização política que se anuncia para a eleição presidencial de 2022, curiosamente antepondo dois extremos, que, de tão apartados um do outro, se tocam em suas radicalidades, o que fica de certeza concreta é a imagem de um país que insiste em permanecer preso no tempo, como quem não conseguiu estabelecer as pazes com um passado conturbado.

É nessa fronteira da irracionalidade ideológica que multidões parecem ir em busca de remendar algo como uma xícara de fino alabastro esmigalhada. A exemplo do que ocorreu com outros países em tempos diversos, quando a opção final de um pleito desembocou para a encruzilhada bifurcada entre o ruim e o pior, qualquer dos caminhos escolhidos conduziu sempre ao precipício.

A tão esperada imunidade de rebanho, pretendida agora por especialistas em medicina sanitária, poderia, com muita propriedade, ser aplicada e estendida também ao rebanho formado por eleitores, conferindo-lhes a capacidade de manter-se distantes e infensos aos apelos encantatórios desses seres das profundezas.

A oportunidade para que os eleitores reflitam é dada pelas consequências auferidas ao final, nos governos de um e de outro, o que, em si, pode se constituir em um poderoso alerta do que virá. O problema aqui é colocar na mesma balança a baixa qualificação dos eleitores e, por inércia, de seus candidatos. Em país algum submetido no passado aos rigores e aos traumas, seja de uma extrema-direita, seja de uma extrema-esquerda, candidatos com esse perfil jamais ousariam apresentar-se ao público.

Mas, em se tratando de Brasil e sua estranha mania em autoflagelar-se em penitências inócuas, tudo parece possível. A opção entre candidatos tão assemelhados em seus vícios, com os mesmos perfis anacrônicos, moldados num personalismo populista e vazio e que já não deveria ter lugar em pleno século 21, faz do Brasil um laboratório aberto não apenas para o estudo epidemiológico da covid, mas um campo para o estudo dos efeitos colaterais de uma democracia jamais levada a sério neste país.

Exemplo desses extremos a se tocar nas pontas pode ser facilmente constatado nas semelhanças que unem o negacionismo científico e o desdém apático pela pandemia de um e a defesa feita pelo outro da importância maior que teriam a construção de gigantescos e dispendiosos estádios de futebol, em comparação aos hospitais. Não por ironia do destino e, talvez, como um alerta aos eleitores, muitos desses estádios fantasmas, a relembrar a derrota vexaminosa da Seleção para a Alemanha, servem hoje como espaços surreais para a instalação dos hospitais de campanha, numa tentativa de suprir a deficiência histórica de nossos centros de saúde, sucateados e constantemente lotados.

Até mesmo a escolha racional baseada num caminho do meio, de consenso e de concertação, e que parece não existir no horizonte, tem mostrado como é difícil neste país sair do impasse e das opções pelo caos. Quem poderia, dentro das possibilidades que temos à mão do eleitor, se apresentar como tal, certamente, viria sob uma roupagem ou um Cavalo de Troia a esconder um Centrão sempre pronto a tudo em troca de vantagens. É nesse ponto que vamos sentir o desejo de voltar atrás, em busca, quem sabe, de refazer todo o trajeto, a começar por uma profunda reforma política e eleitoral.


A frase que foi pronunciada

“Se vais sair à frente para descrever a verdade, deixa a elegância para o alfaiate.”
Einstein


#EuLiParaVocê
» Osmar Arouck, da Biblioteca do Senado, gravou pequeno trecho da obra O Carnaval dos Animais, de Moacyr Scliar. Postamos o link no Blog do Ari Cunha para você ouvir. Que boa ideia, Arouck! Inclusive o lado social e inclusivo dessa iniciativa.


Correios
» Com administração eficiente, o resultado mostra a retomada dos Correios. O lucro de R$ 1,53 bilhão, que representa 84% de aumento no patrimônio líquido em relação a 2019. No início de julho do ano passado, divulgamos a intenção do general Albuquerque de implementar os lockers em Brasília. Já foram inaugurados na Agência Central dos Correios, da Administração do Paranoá, no Conjunto Nacional, no Shopping Popular de Ceilândia, no Home Center Castelo Forte, em Vicente Pires, e no Jardim Botânico, e no Shopping Plaza Alto do Sol. Lockers são armários que os clientes contratam para receber a correspondência ou produtos fora do domicílio.


Elo
» Pneu de Ferro é o nome da operação da PF para desmontar o tráfico internacional de armas. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, os mandados de prisão temporária fecharam as investigações que se iniciaram desde 2019. Tudo começou no Galeão, quando fuzis e outros apetrechos foram apreendidos. A ligação com as cidades de Kissimmee, Orlando e Tucson, nos Estados Unidos, eram o elo que deu a partida nas pesquisas investigativas.


História de Brasília
O ponto de táxi da Igrejinha está sem telefone. Presta relevante serviço a uma área muito grande, e bem que merecia um aparelho. Merecia, também, a fiscalização de Serviço de Trânsito a propósito do uso de taxímetro. (Publicado em 02.02.1962)