Em 1977, dois anos depois de iniciar minha trajetória no Correio, conheci Odete Ernest Dias, que realizava uma concorrida roda de choro, nas tardes de sábado, em seu apartamento na 311 Sul. Fiquei honradíssimo ao ser apresentado à flautista francesa que, a convite da Universidade de Brasília, veio integrar o corpo docente da instituição. Antes, ao deixar Paris, chegou ao Rio de Janeiro para integrar a Orquestra Sinfônica Brasileira.
Costumava me encontrar com Odette e Geraldo (o marido dela) no Beirute e, em uma das vezes, eles me instaram a assinar a ata de fundação do Clube do Choro — mesmo eu não tocando nenhum instrumento, sendo apenas um aficcionado do gênero musical, gênese do que viria a ser conhecida como MPB. À época, sempre que havia alguma tocata com chorões, no Teatro Galpão e no Teatro da Escola Parque, eu ia assistir.
Desde que, no começo da década de 1990, Henrique Santos Filho, o Reco do Bandolim, assumiu a presidência do clube e promoveu a revitalização da antiga sede, passei a ser frequentador assíduo dos shows que ocorriam ali. O primeiro e inesquecível foi o de Paulinho da Viola, que antecedeu as edições anuais dos projetos em homenagem a mestres chorões e renomados compositores brasileiros — interrompidos por conta da pandemia.
A flexibilização determinada pelas autoridades da saúde levou a direção da entidade a criar um projeto, intitulado Domingo no Clube, que estreou antes de ontem, obedecendo às determinações sanitárias para esse tipo de evento. Estive lá e pude perceber a felicidade das pessoas por poderem voltar a usufruir novamente música de qualidade. A responsável por isso foi a roda de choro, que reuniu talentosas musicistas brasilienses — algumas delas formadas pela Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello — intérpretes de clássicos da obra de Pixinguinha, Jacob do Bandolim, Waldir Azevedo e de outros grandes compositores.
Houve, ainda, um show da Alessandra Terríbilili, em tributo a Ademilde Fonseca, para celebrar o centenário da chamada Rainha do chorinho, interpretando clássicos como Brasileirinho, Lamento, Teco teco, O que vier eu traço. O Domingo no Clube volta a ocorrer no próximo domingo, à 16h. Desta vez o homenageado será Chico Buarque de Holanda, um dos gigantes da música e da cultura brasileiras.
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