Por José Pastore — Professor da Universidade de São Paulo e membro da Academia Paulista de Letras Fernando Tadeu Perez — Profissional de recursos humanos especializado em estratégia e gestão.
O trabalho remoto vem crescendo há vários anos, mas ganhou velocidade com a pandemia. É comum ouvir-se dos empregados e empregadores que o trabalho remoto tem alta produtividade. Mas a sua mensuração é complexa. Michael Gibbs e colaboradores fizeram um estudo detalhado com 10 mil técnicos de TI na Ásia durante 17 meses em que os profissionais trabalharam presencial e remotamente, de abril de 2019 a agosto de 2020. Em lugar de se basearam na opinião dos profissionais, os autores analisaram detalhadamente suas atividades, minuto a minuto, com a ajuda de um software instalado nos computadores (Sapience Analytics) que registra e classifica as ações dos profissionais desde a mais importante para a sua função até as mais periféricas, como reuniões on-line, contatos diversos e distração. Trata-se de uma medida rigorosa e objetiva.
Os dados indicaram que a produtividade do trabalho remoto é cerca de 6% a 12% mais baixa do que o presencial, mas a produção é igual devido ao maior número de horas trabalhadas pelos profissionais diariamente (Michael Gibbs, Work from home and productivity, Bonn: Institute of Labor Economics, Maio de 2021).
O excesso de reuniões on-line que marca o trabalho remoto desvia o foco das atividades dos profissionais. O número de e-mails aumenta e toma muito tempo. Além disso, os profissionais ressentem a falta de troca de ideias com colegas e supervisores, que é comum no trabalho presencial. Os pesquisadores notaram que a presença de crianças em casa reduz a produtividade, especialmente das mulheres.
O caso das mulheres é tratado com detalhes em matéria recente da Revista The Economist. Os 14 meses da presença das crianças em casa, devido ao fechamento das escolas, têm levado muitas mulheres a trabalhar tarde da noite ou de madrugada para poder se concentrar. Durante o dia, as mulheres são mais interrompidas do que os homens. O problema é particularmente sério para as divorciadas que moram só com os filhos. Várias pesquisas indicam que o bem estar das mulheres é muito mais prejudicado do que o dos homens. Isso impacta negativamente na sua produtividade, o que requer mais horas para dar conta do seu trabalho (Take your child to work every day, The Economist, 22/05/2021).
Mas, é claro, o trabalho remoto pode proporcionar ganhos para empregados e empregadores com os devidos cuidados. Os empregados ficam livres do trânsito, economizam roupas, ficam junto da família, etc. Os empregadores economizam espaços, energia, pessoal de apoio e outros fatores.
Dentre os cuidados a tomar, convém considerar a precariedade de condições para a execução de trabalho remoto que afeta a maioria dos brasileiros, em especial, a falta de privacidade e espaço adequado e o esgotamento físico e mental decorrente dos horários estendidos — o que, certamente, compromete a produtividade.
Uma boa alternativa será a construção de escritórios corporativos de diversos tamanhos (estações de trabalho) próximos das moradias dos empregados para evitar os transtornos do trânsito e com estrutura adequada para se fazer um trabalho satisfatório para as duas partes, proporcionando a elas os encontros presenciais que são necessários para troca de ideias, orientação, coaching e avaliação da produtividade.
Tudo indica que o modelo híbrido, que combina o domicílio com as estações de trabalho em dias variados, será a alternativa preferida por empregados e empregadores. O convívio, por menor que seja, é essencial para manter o espírito de pertencimento e evitar a sensação de esquecimento que, muitas vezes, domina os empregados e compromete a produtividade.
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