MÚSICA

Afável Nelson Sargento

Certa vez, lhe chamou a atenção reportagem de minha autoria publicada no caderno de Cultura do Correio. Soube disso dias depois, quando recebi uma carta do cantor e compositor carioca, por quem sempre tive grande admiração

Irlam Rocha Lima
postado em 01/06/2021 06:00
 (crédito: Nelson Sargento/Instagram/Reprodução)
(crédito: Nelson Sargento/Instagram/Reprodução)

Em 1989, Nelson Sargento estava pintando as paredes de um apartamento em Botafogo, bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro, que conhecia bem. Próximo do prédio, havia uma agência do BRB (Banco Regional de Brasília), que ele passou a frequentar no intervalo do trabalho, para ler revistas e jornais. Certa vez, lhe chamou a atenção reportagem de minha autoria publicada no caderno de Cultura do Correio. Soube disso dias depois, quando recebi uma carta do cantor e compositor carioca, por quem sempre tive grande admiração.


Na carta, de forma poética, manifestava desejo de fazer show em Brasília e, para tanto, queria saber a quem procurar. De imediato, entrei em contato com Zico Cerqueira, à época diretor artístico da Aruc. Com o endereço em mãos, Zico, aficionado pela Portela, enviou correspondência para o ilustre mangueirense, convidando-o a se apresentar na escola do Cruzeiro Velho.


O show ocorreu semanas depois e superlotou a quadra da agremiação. Acompanhado pelo grupo Coisa Nossa e o violonista Jaime Ernest Dias, o mestre do samba encantou o público, que fez coro com ele em clássicos como Agoniza mas não morre, Falso amor sincero, Cântico à natureza e Exaltação à Mangueira. A partir dali, tendo Zico como produtor local, com alguma frequência, ele passou a vir à cidade. Tive o privilégio de ouvi-lo em diferentes espaços.


Aplaudi Nelson Sargento no Teatro da Caixa, no Centro Cultural Banco Brasil (onde foi homenageado no projeto Flores em Vida) e no extinto Feitiço Mineiro. Naquele local, na década de 1990, antes da apresentação pela série Gente do Samba, conversei durante meia hora com aquela figura afável e pude usufruir de sua sabedoria — adquirida com a vivência artística e a leitura de livros, que — segundo me contou — colecionou ao longo dos anos em sua biblioteca.

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Esse gigante da cultura popular brasileira, que morreu aos 96 anos, na última quinta-feira, despediu-se dos palcos brasilienses em 29 de novembro de 2017, no Outro Calaf. Emocionou a todos ao soltar a voz na roda de samba comandada pelo grupo 7 na Roda. Aquela noite memorável, com certeza, mantém-se no imaginário de quem teve o privilégio de reverenciar o eterno mestre.

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