Visão do Correio

Visão do Correio: Corrida de recuperação

A conclusão eloquente em relação a tudo isso é de que passou da hora de ir atrás do tempo perdido e fazer o que no automobilismo se chama de corrida de recuperação. O Brasil tem urgência de mais e mais vacinas e de todos os tipos, além das três que já são aplicadas — a outra é a da Pfizer

Os depoimentos na CPI da Covid, no Congresso, vão se sucedendo e evidenciando o que já era claro para muita gente: o governo brasileiro demorou muito a admitir a vacinação em massa e rápida como o melhor caminho para combater a pandemia. Assim, não deu a prioridade devida às negociações para a aquisição do maior número e variedade de vacinas possível, nem buscou acelerar os prazos para obtê-las.

Para piorar, as críticas e trombadas do presidente e de outros integrantes do estafe governamental com a China acabaram, ao que tudo indica, causando atrasos na entrega por aquele país de lotes da matéria prima necessária à fabricação local dos imunizantes pelo Butantan (CoronaVac) e pela Fiocruz (Oxford/AstraZeneca), e atrasando também, por consequência, seus cronogramas de produção.

O resultado foi entrega de doses a conta-gotas, eventuais faltas de vacina e um ritmo lento de imunização, que até agora atinge apenas pouco mais de um quinto da população com a primeira dose e a metade desse contingente com as duas, enquanto infectologistas alertam para o risco de uma terceira onda de infecções.

Por outro lado, países que negociaram precocemente os imunizantes, quando ainda estavam em desenvolvimento, começam a flexibilizar a obrigatoriedade do uso de máscara e de distanciamento social, e a autorizar presença de público em espetáculos e eventos esportivos. Inclusive os Estados Unidos, que já foram o epicentro mundial da pandemia.

A conclusão eloquente em relação a tudo isso é de que passou da hora de ir atrás do tempo perdido e fazer o que no automobilismo se chama de corrida de recuperação. O Brasil tem urgência de mais e mais vacinas e de todos os tipos, além das três que já são aplicadas — a outra é a da Pfizer.

Até porque há sinais de que poderão ser necessárias doses de reforço para faixas etárias mais altas em alguns casos. E de que as campanhas de vacinação precisarão ser repetidas a cada ano, como já ocorre, por exemplo, com a gripe.

É fundamental, portanto, tentar apressar ao máximo a entrega das vacinas já contratadas, buscar mais fornecedores e investir na produção de novos imunizantes no país. Nesse sentido, o estrangulamento financeiro das universidades federais, onde há várias pesquisas a respeito em andamento, é lamentável e deveria ser desatado.

Menos mau que haja iniciativas paralelas para dar alento. Como as vacinas em desenvolvimento no Instituto Butantan, em faculdade de medicina da Universidade de São Paulo e na Universidade Federal de Minas Gerais. Recentemente, a prefeitura de Belo Horizonte assinou termo de patrocínio com a UFMG, no valor de R$ 30 milhões, para garantir a continuidade do desenvolvimento da Spintec, imunizante 100% nacional, atualmente em fase de testes em primatas. A verba assegurará a testagem em humanos e, com isso, a universidade estima que possa começar a produção da vacina em larga escala no ano que vem.