Ele nasceu e morreu no mês de maio. No último dia 20, teria feito 11 anos. No próximo dia 31, completarão dois anos desde que partiu deste mundo, vítima de um crime bárbaro. O sofrimento inimaginável que Rhuan Maycon suportou em sua curta vida e o assassinato covarde e brutal não podem cair no esquecimento.
A história desse garotinho é penosa demais, provoca uma sensação de sufocamento, uma tristeza tão forte que só o choro alivia. Mas sinto que não posso — nem devo — deixá-la no passado. Mantê-lo vivo na memória é uma forma de homenageá-lo.
O mundo que Rhuan Maycon conheceu foi praticamente só dor e medo. Não tinha direito a brincar, a ir à escola. A rotina era de abusos físicos e psicológicos, enfrentados em silêncio. Sem amor, carinho, alegria. Mas a perversidade humana consegue perpetrar mais horror ainda. Ele teve pênis e testículos cortados, numa “cirurgia” caseira. Por complicações da mutilação, sentia dores atrozes ao urinar. Uma criança, submetida a tamanho sofrimento! E, um ano depois, na noite de 31 de maio de 2019, veio o desfecho horripilante. O menino dormia quando recebeu a primeira facada. Outras se seguiram. Foi degolado ainda vivo e teve o corpo esquartejado.
As criaturas malignas que o massacraram — a própria mãe e a companheira dela — foram condenadas a mais de 60 anos de prisão. Sentenças totalmente ilusórias. Em breve, estarão livres novamente, beneficiadas por nossa frouxa legislação penal. Poderão desfrutar da vida, como se merecessem.
O Brasil jamais será um país justo enquanto não deixar apodrecerem na cadeia esses tipos monstruosos, que torturam e matam crianças. Essas miseráveis tinham de cumprir a pena na totalidade atrás das grades, ser mantidas enjauladas. Assim, haveria, de fato, alguma justiça para Rhuan.
Casos de crueldade extrema não faltam para mostrar a urgência de o Congresso aprovar leis realmente rigorosas contra abusadores e assassinos de meninos e meninas. Se a nossa Constituição proíbe penas de caráter perpétuo, por que não mudá-la? Só dessa forma a escória violenta e covarde ficaria longe das ruas. Em respeito a um sem-número de indefesos que padeceram, como Rhuan, e em nome da proteção de crianças e adolescentes.