Que tipo de país queremos viver no futuro? Em um país semi-industrial, agrícola, exportador de commodities ou em um país inovador, com excelência nos serviços e exportador de plataformas de valor agregado? Em um país com o selo ESG (Environment, Social e Governança) com práticas inclusivas ou em um país predador da natureza, estimulador de desigualdades sociais e fomentador de instabilidade institucional? Em um país que exerce protagonismo por ser um celeiro de ideias e iniciativas culturais ou em um país coadjuvante no cenário internacional? Queremos viver em um país onde a nova geração tem orgulho e prazer em habitar ou em um local cujo sonho maior dos mais jovens é o de se mudar o mais cedo que for possível?
Desde 2003, quando publiquei a primeira versão do livro Você é do tamanho dos seus sonhos, tenho insistido que tão importante quanto saber de onde viemos e onde estamos, é definir onde queremos chegar. Afinal, se não conseguimos alterar nosso passado, podemos, sim, mudar nosso futuro nas diferentes esferas da nossa vida — pessoal, familiar, comunitária e, por que não, do nosso país.
Confiante na arte de sonhar com os olhos abertos, elenco aqui alguns pilares essenciais para a construção de um “Projeto Brasil 2030”, como um instrumento para viabilizar a convergência e migrar do atual estágio de polarização ideológica para um novo patamar, com reconciliação inspirada a partir de um sonho coletivo.
Comecemos pela espécie de “Marco Zero” de uma liderança inspiradora — a sua capacidade de construir um propósito comum. Esse tipo de liderança fornece às pessoas aquilo que mais desejam — um significado para suas vidas. Um exemplo é o de Nelson Mandela com o propósito de promover a reconciliação nacional, freando iniciativas dos mais radicais, que desejavam estimular um apartheid às avessas na África do Sul. Quais seriam os pilares que poderiam nos unir em um “Projeto Brasil 2030” transformador para o país? Compartilho abaixo um conjunto com nove temas essenciais para tangibilizar essa espécie de passaporte para o futuro:
Consolidar a democracia — Temos que reconstruir a harmonia entre os Poderes constituídos no nosso modelo democrático, garantindo segurança institucional.
Revitalizar a Economia — Com a premissa da pandemia controlada até o final de 2021 e superada até meados de 2022, o Brasil precisa voltar a crescer, pelo menos, 3% ao ano para assegurar empregos sustentáveis, bem como renda mínima digna aos brasileiros.
Investir em educação, ciência, artes e cultura — O país não evoluirá para novo patamar sem investirmos nessas áreas.
Resgatar o sistema de saúde — O Brasil foi abalado pela forma de combate ao pesadelo da covid-19. Agora, devemos perseguir o sonho de sermos um país saudável, combatendo tanto doenças típicas de países pobres, quanto aquelas decorrentes do nosso precário sistema de saneamento, que, finalmente, começa a ter um novo marco regulatório, além de enfermidades que atingem as demais parcelas da população.
Garantir a segurança pública — Precisamos de reforma na legislação e no sistema prisional, além de maior integração entre os diversos poderes e das entidades que precisam zelar pela segurança com “S” maiúsculo.
Modernizar a infraestrutura — O caos urbano nas grandes cidades causado pelo baixo nível dos serviços públicos e ineficiente rede de infraestrutura merece ser repensado, de forma a resgatar a eficácia perdida pela falta do planejamento competente.
Abraçar a sustentabilidade ambiental — Precisamos resgatar o ativo geográfico e reputacional, que está sendo deteriorado por uma concepção equivocada do nosso papel no planeta.
Definir a essência da política externa — O Brasil precisa reassumir posição de protagonismo saudável no cenário regional e mundial, influenciando políticas de forma compatível com seu posicionamento no “concerto” das nações.
Reorganizar a máquina governamental — O chamado “choque de gestão” precisa se transformar em ações e deixar de ser um mero chavão oportunista.
Todos os pontos citados têm sido debatidos, mas de forma pontual e isolada. Porém, o maior mérito para percebermos o grau da transformação que é imperiosa está no conjunto desses pilares, que devem compor uma visão pragmática de projeto para o país.
A mudança depende de líderes que nos inspirem a resgatar a capacidade de sonhar e de visualizar a outra margem do rio para onde devemos ir. Adicionalmente, eles precisam nos ajudar a construir a ponte e, ao mesmo tempo, nos encorajar a iniciar a travessia em direção ao próximo patamar. Esse é o espírito do “Passaporte para o Futuro” que precisamos carimbar rumo ao Brasil 2030!